Notícias

26/06/2017

Fundos podem ter de vender ações e imóveis para pagar a aposentados

Pesquisador do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia), Afonso acaba de concluir um estudo para associação do setor (Abrapp), em parceria com o consultor Paulo Roberto Vales.

Num momento de taxas de poupança e de investimento muito baixas, o Brasil pode enfrentar novo gargalo no financiamento de longo prazo.

Os fundos de pensão (planos de previdência restritos a funcionários de uma empresa), que estão entre os principais investidores em projetos de longo prazo, podem precisar vender participações acionárias e imóveis para pagar aposentadorias, diz o economista José Roberto Afonso.

Pesquisador do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia), Afonso acaba de concluir um estudo para associação do setor (Abrapp), em parceria com o consultor Paulo Roberto Vales.

Se não houver mudanças no setor, diz, os recursos dos fundos de previdência fechados se esgotarão entre 2031 e 2034, dependendo da taxa de juros reais estimada (3% e 5% ao ano, respectivamente).

Mas, muito antes disso, as instituições terão de começar a mobilizar os cerca de R$ 320 bilhões que estão em investimentos de longo prazo.

"Nossa simulação ainda é otimista", diz o economista. O estudo considera que cada funcionário que deixa uma empresa é reposto e o número de atuais contribuintes (cerca de 2,54 milhões) se mantém, "o que não está acontecendo e, provavelmente, não voltará a acontecer".

Os fundos com maior volume de investimentos hoje são de empresas estatais, como a Previ (do Banco do Brasil), o Petros (da Petrobras) e a Funcef (da Caixa). As três estão reduzindo suas equipes.

A participação dos fundos de pensão em ações e fundos de ações já vem caindo, de 33% dos investimentos em 2010 para 19% em 2015.

Os grandes fundos também têm sido obrigados a fazer mudanças para corrigir a previsão de rombos futuros (os chamados deficit atuariais) e enfrentam investigação sob suspeita de corrupção na Operação Greenfield.

A hipótese é que investimentos superfaturados tenham levado a perdas.

Do lado das empresas privadas, a previdência fechada é geralmente mantida por multinacionais, que também enxugaram suas equipes.

Segundo Afonso, o governo precisa se antecipar. "É como um jogo de futebol em que já entrássemos perdendo de três gols. Precisa atacar, fazer quatro gols para não perder."

Desestímulo - Entre os pontos que precisam de mudanças, segundo Afonso, estão a tributação -"em vez de estímulo, há desestímulo à participação"- e a regulação, que encarece o modelo e o deixa limitado às grandes empresas. "O sistema regulatório foi criado para grupos de 200 mil funcionários. Não funciona para empresas com 50 vagas."

Só a Previ, o maior fundo do país hoje, tem mais de R$ 160 bilhões de ativos, 100 mil contribuintes e paga benefícios a mais de 88 mil.

O financiamento de longo prazo também enfrenta gargalos no setor de previdência privada, cujas regras exigem liquidez diária e portabilidade. "Para não correr riscos, as instituições preferem aplicar em dívida pública, que paga juros altos e pode ser resgatada diariamente."

O próximo passo será levantar impactos de mudanças regulatórias e sugerir produtos mais adequados para previdência privada.

No estudo para a Abrapp, Afonso estimou que a previdência fechada tem potencial para crescer entre R$ 234 bilhões e R$ 474 bilhões em dez anos, em valores atuais.

A análise considera contribuição entre 4% e 8% da renda de 4 milhões de brasileiros. O cliente potencial típico é homem, de 30 a 44 anos, da região Sudeste, casado com filhos e com rendimento pessoal acima do piso previdenciário (R$ 5.531,31 em 2017). 

FONTE: FOLHA DE S. PAULO