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24/11/2015

Fabricantes de material de base terão faturamento 10% menor

O segmento só deve começar a esboçar uma retomada no segundo semestre de 2016.

Juliana Estigarríbia

Fabricantes de material de construção de base amargam um ano de baixa demanda e elevado índice de demissões. Com queda do faturamento estimada em 10,5% para 2015, o segmento só deve começar a esboçar uma retomada no segundo semestre de 2016.

"O baixo nível de confiança das famílias, obras de infraestrutura paradas e o desempenho ruim do Minha Casa Minha Vida impactaram de forma acentuada as vendas da indústria de base", afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover.

Segundo ele, a retração das vendas dos fabricantes às construtoras chega a cerca de 13% no ano, e no varejo o recuo atingiu 7%. "A percepção de renda do brasileiro está muito ruim, afetada pela inflação alta, e o desemprego tem afetado a decisão de reformar ou comprar uma casa", destaca.

Dados preliminares do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) mostram que as vendas do insumo acumulam baixa de 8,4% até outubro. O maior player do mercado doméstico, a Votorantim, informou ontem (23) recuo de 6% na venda de cimento no terceiro trimestre sobre um ano antes.

Já no negócio de aço a gigante brasileira registrou crescimento das vendas impulsionado pelo mercado externo. "O segmento de vergalhões anda muito mal, agravado pelo aumento significativo das importações", complementa Cover.

O dirigente lembra que o boom do mercado imobiliário, ocorrido em meados de 2011 a 2012, resultou em aumento da demanda para os fabricantes de materiais de base nos 18 meses seguintes. Após esse período, o segmento passou a enfrentar queda significativa das vendas. "O ritmo de obras do mercado imobiliário caiu muito", pondera o presidente da Abramat.

De acordo com o Sindicato da Indústria da Mineração de Brita, Areia e Saibro do Estado do Rio Grande do Sul (Sindibritas), a queda média do faturamento do setor na região deve ficar entre 30% a 40%, dependendo do tipo de material. "Não há cenário possível de alento no curto e médio prazo", observa o presidente da entidade, Pedro Reginato.

Ele conta que diversas empresas do setor estão em dificuldades, principalmente pequenas e médias e, no segmento de construção pesada (que atende, em sua maioria, obras de estradas e infraestrutura) a situação é ainda pior. "Somente 10% das empresas estão conseguindo honrar com seus compromissos", revela.

Reginato conta que nos segmentos de construção civil (moradias) e de pavimentação, as mineradoras demitiram cerca de 20 mil funcionários só neste ano.

"O alto índice de desemprego, a falta de crédito e o baixo nível de confiança do consumidor derrubaram o nosso mercado." Reginato destaca que o endurecimento das regras do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também impactou bastante o setor da construção civil. "O crédito, em geral, está escasso e caro, paralisando ainda mais os negócios."

Conforme a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), o consumo do material no setor da construção civil veio abaixo do esperado neste ano. "A queda este ano deve ser significativa", diz o presidente da entidade, Milton Rego, ressaltando que todos os setores demandantes de alumínio estão em recessão.

"As empresas estão postergando investimentos e reduzindo estoques. Isso inclui também o segmento da construção civil", ressalta o presidente da Abal. Ele afirma que dois fatores impactam diretamente o desempenho do segmento de alumínio para construção civil: o endividamento das famílias e a retração dos investimentos das construtoras e incorporadoras. "Estas empresas estão buscando liquidez e redução dos estoques", destaca Rego. Ele salienta que o mercado de construção civil - e o principal produto consumido no segmento, os extrudados - deverão encerrar o ano com queda de 10%. "A retração para o nosso setor só não será maior porque o alumínio tem substituído alguns materiais na construção civil, como aço, por exemplo", diz o presidente da Abal.

As importações, por outro lado, não devem pesar tanto na conta dos fabricantes de transformados de alumínio, neste ano. "Só o que nos preocupa é a entrada cada vez maior de produtos asiáticos com preços bem abaixo do mercado internacional, indicando prática desleal. Muitas vezes estes produtos têm qualidade baixa", destaca.

Minha Casa Minha Vida

O presidente da Abramat revela que o Minha Casa Minha Vida responde, historicamente, por 7% do faturamento total da indústria de materiais de construção. Para as construtoras, a representatividade do programa do governo federal é ainda maior, chegando a cerca de 15% do total. Mas segundo Cover, os desembolsos do governo vieram muito aquém do esperado.

"Principalmente no segundo semestre deste ano, a primeira faixa de renda do programa foi bastante prejudicada", pondera. Ele acrescenta que, comparado a anos anteriores, o número de obras novas diminuiu sensivelmente. "O ritmo caiu muito", pontua.

Para o presidente do Sindibritas, em 2014 o Minha Casa Minha Vida foi responsável por um grande volume de obras. "Mas agora uma série de dificuldades está impactando o setor e os valores das unidades não têm sido corrigidos já há algum tempo", pondera o dirigente.

Perspectivas

Reginato afirma que, para enfrentar a crise que se instalou no setor, as empresas estão cortando custos ao máximo, além da redução no quadro de funcionários. Já o presidente da Abal reforça que gestão financeira e de ativos adequada é a chave para o momento atual.

"Além disso, é importante que as empresas não deixem de investir em melhorias de processos e inovação. O mercado brasileiro tem potencial e, eventualmente, vai voltar a demandar", avalia Rego.

Para 2016, Reginato está mais cético. "Não vamos recuperar o ano perdido de 2015. O que pode trazer algum alento em 2016 são as eleições municipais, mas longe de uma recuperação consistente", observa.

De acordo com a Abramat, o segmento de infraestrutura representa 18% das vendas de materiais da indústria. "O governo deve voltar a alavancar as concessões, o que vai ser positivo para os materiais de base", acredita Cover.

Para o varejo, que representa metade do faturamento da indústria, a expectativa é de melhora da percepção da renda. "Com isso, deve haver uma evolução progressiva das vendas, ainda que lenta", destaca. Ele ressalta que o nível de confiança das famílias também trará um início de retomada do mercado imobiliário. "Mas ainda teremos queda de 4% em 2016."

 

FONTE: DCI - SãO PAULO/SP