Nathália Larghi
O sistema bancário mundial está passando por transformações sustentadas pelas novas tecnologias. Os movimentos recentes mostram que a tendência mais forte é que empresas fora do setor financeiro passem a oferecer serviços e soluções bancárias. A avaliação é do especialista em inovação Guga Stocco.
Durante congresso da Febraban de combate e prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo, Stocco falou sobre como as inovações tecnológicas vêm transformando rapidamente as empresas e o ambiente de negócios. Nesse contexto, diz, os bancos vão ter de atender bem o cliente. "Se não atender muito bem digitalmente, ele morre. Com um clique eu tiro o aplicativo daqui e escolho outro", afirmou Stocco.
O especialista ressalta que cada vez mais surgem opções de bancos e fintechs que oferecem contas digitais, que podem ser abertas de maneira mais rápida e fácil. A grande mudança, no entanto, se dará com a chegada de novos participantes. O especialista usou o exemplo da rede de cafeterias Starbucks, que oferece um cartão de fidelidade que passará em breve a ser aceito como forma de pagamento em empresas virtuais.
Stocco citou ainda o caso do WeChat, aplicativo de troca de mensagens semelhante ao WhatsApp que é líder na China. Ele conta que a empresa dona do aplicativo focou sua atuação em micropagamentos, com a cobrança de alguns centavos para poder exercer funções como criar um "avatar" para colocar no lugar da foto do usuário ou ganhar mais vidas em algum jogo. Isso, segundo o especialista, é mais uma evidência de que companhias diferentes tendem a se "bancarizar". "Os novos líderes de serviços financeiros serão aqueles que tratarem bem o cliente, os que criarem a melhor experiência, os que se arriscarem, e que têm isso como parte da cultura do dia a dia", diz.
As mudanças, no entanto, podem demorar um pouco a começar a ocorrer no Brasil, principalmente em relação à criação de startups nacionais. Isso porque existe uma forte regulamentação no país. "Não se pode aplicar a mesma lei do Bradesco para uma fintech com quatro meninos empreendendo. O ideal seria limitar pelo faturamento o que pode ou não fazer. Regulamentação não é ruim, ela protege. Mas não pode ser uma barreira. E se a regulamentação não muda, o país fica pra trás", diz.
Questionado sobre a chegada de novos meios de pagamento e moedas, como as bitcoins, Stocco afirmou que é algo que tende a crescer cada vez mais, mesmo assumindo que "em algum momento vai dar algum problema, como tudo na vida".
"Já estão saindo cartões que trocam [bitcoins] por qualquer moeda em qualquer lugar do mundo. São infinitamente mais ágeis, é um banco que serve para o mundo inteiro", diz.