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05/02/2020

Em movimento inédito, XP adquire fatia em gestora de fundo de crédito

Plataforma de investimento comprou um terço da asset Augme, especializada em fundos de alto retorno e alto risco

Atenta à crescente demanda dos investidores por diversificação e rendimentos superiores à taxa básica de juros do país, a XP Investimentos fez um movimento inédito em sua estratégica e comprou um terço da gestora de recursos Augme, especializada em fundos de crédito de alto retorno e alto risco.

“Trabalhamos para estruturar esse negócio desde o nascimento da Augme”, contou Gustavo Pires, diretor de fundos de investimentos da XP Investimentos, em entrevista ao Valor.

“Acreditamos que o mercado de 'high yield' tem muito potencial no atual cenário”, ressaltou o executivo, usando o jargão financeiro para tratar de fundos que aplicam em papéis de dívidas de empresas e que oferecem perspectiva de resultados melhores, mas com risco superior ao dos tradicionais títulos do governo.

É esperado para hoje que o Banco Central anuncie o 17º corte na Selic, desde o pico de 14,5% ao ano, levando a taxa a 4,25%. Essa queda contínua e rápida deixou os investidores órfãos de retornos na casa dos dois dígitos e tem levado a uma grande busca por novos produtos para aplicação.

Fundada por Marcelo Urbano, com histórico em diversas casas e que até 2018 compunha o time de sócios da Captalys, a Augme estreou em março do ano passado. Em menos de um ano, tem sob seus cuidados um patrimônio de R$ 660 milhões.

O plano é dobrar esse volume até o fim deste ano, segundo contou o próprio Urbano. A parceria com a XP tem foco, principalmente, na estratégia de desenvolvimento de produtos e distribuição. A gestão permanecerá totalmente independente.

A ideia, conforme explicou Pires, é que a XP possa contribuir para o desenvolvimento de produtos que possam ser oferecidos de forma mais ampla. Atualmente, a gestora tem seis fundos, dois apenas para investidores profissionais e quatro para qualificados. Somente dois deles estão acessíveis na plataforma da XP. O objetivo é, gradualmente, ampliar o leque de ofertas. “Vamos ajudar a desenhar fundos a partir das carteiras e modelos da Augme”, disse. “Eles vão poder nos ensinar a dinâmica do varejo”, completou Urbano.

“Fundos de crédito usam estruturas mais complexas”, comentou Pires. Por isso, as carteiras têm prazos maiores para resgate e arquiteturas muitas vezes mais complexas. A expectativa é que a XP ajude a embalar os produtos de forma a poder ofertá-los para todos os públicos investidores que atende: alta-renda, o varejo e os institucionais.

Hoje, a Augme, explicou o diretor da gestora Bruno Coelho, tem como principais investidores as casas que administram fortunas familiares. Apesar de se dedicar a oportunidades com retorno mais elevado, a gestora se preocupa em evitar grandes concentrações de risco. “Temos 165 ativos em carteira com 120 diferentes tipos de risco”, explicou o executivo.

Para manter a diversificação e a eficiência, o crescimento não pode ser explosivo. “Entradas grandes de recursos, de uma só vez, podem levar a uma alocação menos eficiente”, reforçou Pires. “Estávamos procurando alguém que fosse complementar nessa área e que oferecesse produtos agnósticos”, disse, referindo-se ao fato de a Augme não ser restrita a setores ou tipos específicos de papéis.

Na carteira da gestora, é possível encontrar toda a sopa de letrinhas de papéis do mercado brasileiro de crédito e outras modalidades: de debêntures e bônus, passando por certificados de crédito imobiliário (CRI), de crédito agrícola (CRA), cédula de produto rural (CPR) até compra de direitos de acordos judiciais.

Questionado se a XP planeja adquirir participações em outras gestoras, Pires explicou que se trata de um tipo de acordo muito “artesanal”, ou seja, caso a caso. “Não é algo escalável. Podemos fazer, mas não é um objetivo em si”. Ele explicou ainda que eventuais outros movimentos seriam somente com casas muito especializadas e não mais na área de crédito.

A XP terminou 2019 com quase R$ 410 bilhões em ativos sob custódia, ou seja, recursos investidos em sua plataforma – o dobro do que tinha um ano antes. Disso, pouco mais de R$ 100 bilhões são geridos pela própria casa.

FONTE: VALOR ECONôMICO