A adoção de medidas de mitigação dos impactos ambientais torna mais competitivos os empreendimentos do mercado imobiliário de alto padrão.
A sustentabilidade, até há pouco tempo tratada como um item a mais na qualificação premium desses imóveis, é hoje parte integrante do ecossistema dos edifícios. Os chamados “green buildings” estão consolidados no mercado mundial como elemento importante de descarbonização do setor.
Na cidade de São Paulo, 71% dos empreendimentos de alto padrão são certificados por selos de desempenho em sustentabilidade, segundo pesquisa da consultoria imobiliária JLL. A capital paulista figura na 12a posição em relação a 40 cidades analisadas em todo o mundo — à frente de Miami (66%), Los Angeles (65%) e Nova York (61%), nos Estados Unidos, e de Tóquio, no Japão (51%), Seul, na Coreia do Sul (45%), e Pequim, na China (40%).
A International Finance Corporation, entidade do Banco Mundial, prevê que os edifícios verdes serão uma das maiores oportunidades de investimento global ainda nesta década. E os grandes players do mercado imobiliário, de fato, estão alinhando seus projetos a padrões de construção de eficiência energética.
A MPD Engenharia é certificada com o Green Building Council (GBC), principal selo do setor para empreendimentos que cumprem rígidos critérios de práticas sustentáveis, ambientais e energéticas. O Myrá, sofisticado residencial localizado em Alphaville, São Paulo, recebeu no ano passado o GBC Condomínio.
O vice-presidente de Operações da construtora, Januário Dolores, explica que a certificação é concedida com base na observação de iniciativas como influência positiva no entorno, consumo de energia, água, materiais de baixo impacto ambiental, qualidade interna do ar, requisitos sociais, uso de inovação e de créditos de prioridade regional. “No caso do Myrá, houve 20,67% de redução de energia. No quesito ambiental, desviamos de aterros sanitários 91,12% dos resíduos gerados, e 50% da madeira instalada é certificada pelo Forest Stewardship Council”, detalha.
PIONEIRISMO
A incorporadora Tecnisa recebeu o Aqua-HQE, conferido pela primeira vez na América Latina a um bairro planejado: o Jardim das Perdizes, na Zona Oeste da capital paulista, que tem um parque central com mais 45 mil metros quadrados e 46 espécies de plantas nativas. “A empresa está estudando a viabilidade de inserção de diferenciais de ecoeficiência nos próximos produtos”, informa o diretor de Engenharia, Giulliano Polito. As ações se somariam àquelas já padronizadas no passado.
A Even atingiu o marco de 100% de carbono neutralizado nos empreendimentos entregues no ano passado. “O resultado envolve emissões de toda a cadeia de fornecedores, do início das obras à entrega das chaves”, informa João Paulo Laffront, diretor de Incorporação da companhia.
O residencial Casa Sabiá, em Moema, é um dos empreendimentos que ostentam o selo verde. A companhia tem mais de 50 projetos certificados com o Aqua-HQE, além de um programa próprio de certificação: o Morar Even.
A indústria da construção civil brasileira responde por 40% das emissões de carbono, 70% delas geradas a partir da operação dos prédios e do consumo de energia. Para Diogo Castro e Silva, sócio da Finvest Climate, a necessidade de o setor se adaptar ao carbono zero é urgente. “Embora esse percentual seja relevante para o problema climático, o setor tem tudo para ser o protagonista da agenda de descarbonização”, diz.
Para ele, o setor e a agenda de descarbonização devem caminhar juntos, sobretudo no que tange a impactos de valor e gestão de riscos. “Não são questões opostas. Um edifício mais eficiente energeticamente é mais rentável”, pontua.
A Áurea Finvest acaba de lançar o primeiro fundo brasileiro voltado para a descarbonização do setor, com foco no investimento em startups de tecnologias para reduzir a pegada ambiental, aumentando a resiliência climática do setor de construção civil. Para isso, firmou uma parceria com o Massachusetts Institute of Technology.