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06/06/2017

Diante do receio de consumir, taxa de poupança pode apresentar expansão

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) divulgados na última quinta-feira mostraram que a taxa de poupança em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil chegou a 15,7% no primeiro trimestre de 2017, ante 13,9% nos últimos três meses de 2016.

O receio das pessoas de consumir e a interrupção dos projetos de investimentos das empresas fizeram a taxa de poupança brasileira voltar a subir no primeiro trimestre de 2017, algo que não ocorria no País desde 2012.

Esta trajetória pode ter continuidade ao longo deste ano diante das incertezas políticas e da possibilidade de rendimentos reais (acima da inflação) na caderneta de poupança, por exemplo, com a queda da inflação.

No entanto, este avanço não será "estrutural e persistente", diante da taxa de desemprego elevada e do recuo da renda das famílias nos últimos dois anos, segundo avaliação do coordenador do curso de administração do Ibmec de Minas Gerais, Eduardo Coutinho.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) divulgados na última quinta-feira mostraram que a taxa de poupança em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil chegou a 15,7% no primeiro trimestre de 2017, ante 13,9% nos últimos três meses de 2016. Esta taxa contabiliza todos os recursos disponíveis na economia e que não foram gastos pelas empresas e famílias.

"Conforme as pessoas foram conseguindo reduzir as dívidas bancárias, elas passaram a poupar mais. Diante do medo de perderem o emprego, elas postergaram as decisões de consumo", comenta a economista-chefe para a América Latina da seguradora de crédito Coface Patrícia Krause.

"Como a instabilidade política ainda é alta, a tendência é que as pessoas continuem poupando. Pelo menos em 2017, esta tendência não deve ser revertida", acrescenta ela, pontuando que o saque das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pode ser utilizado para fins de poupança neste ano, contribuindo para o avanço desta taxa no País.

Inflação - Patrícia afirma que a maior parte das famílias estão alocando recursos na caderneta, pois este ainda é o investimento no qual elas se sentem mais seguras e consideram menos arriscado para perdas.

"Como a inflação está caindo, os rendimentos reais da caderneta estão melhores. Quando a inflação estava em cerca de 10% [entre o final de 2015 e início de 2016], a poupança estava com um rendimento negativo, mas, agora, está se aproximando de 3%", exemplifica a economista da Coface.

O professor do Ibmec, por sua vez, analisa que a melhora dos rendimentos desse tipo de investimento beneficia o crescimento da taxa de poupança, mas não de forma expressiva na atual conjuntura.

"A trajetória dessa taxa funciona conforme a renda da população. Como esta caiu muito nos últimos dois anos, é difícil esperar que a poupança cresça de forma persistente" diz ele, pontuando que o número elevado de desempregados no País também é um limitador para esse indicador econômico. No trimestre encerrado em abril último, a taxa de desemprego brasileira chegou a 13,6%, alcançando 14 milhões de pessoas.

Coutinho ressalta que a expansão da taxa de poupança no primeiro trimestre deste ano não é estrutural, pois a tendência é que, a partir do momento em que a atividade produtiva do País voltar a reagir com força, as pessoas passem a consumir novamente e as empresas retomem os seus projetos de aportes.

"Este é um momento de paralisia dos investimentos privados, pois há muitas incertezas sobre o encaminhamento das reformas da Previdência e a trabalhista. Para eles, interessa menos quem é ou será o presidente da República, mas, sim, o que este pode proporcionar em termos de benefícios", complementa Coutinho.

Fiscal - Ainda para o professor do Ibmec, outro limitador para um avanço estrutural da taxa é o déficit fiscal da União. "O governo federal é o principal canalizador da poupança do País. Ele detém cerca de dois terços de todos os ativos financeiros que estão no mercado para financiar a dívida interna", diz. "Na minha avaliação, isso é um problema relacionado aos gastos correntes e ao déficit elevado da União."  

FONTE: DCI