Em um ambiente de mais de 13 milhões de desempregados, o número de investidores da caderneta de poupança no varejo bancário se reduziu em 2,787 milhões de pessoas para um total de 59,431 milhões de clientes em 2016, ante 62,218 milhões registrados em 2015.
Os dados foram divulgados ontem pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). De acordo com especialistas consultados pelo DCI, a aplicação popular ainda pode registrar um pouco mais de saques (resgates) devido ao elevado número de pessoas endividadas e desempregadas.
"Com a crise econômica prolongada e o desemprego, as pessoas tiveram que sacar suas últimas reservas", observou o educador financeiro da DSOP ABC, Edward Júnior.
Mas na visão de Edélcio Fonseca, educador financeiro e sócio-diretor da RVK Negócios, a aplicação em poupança poderá melhorar em 2017 com alguma recuperação da economia e também com uma parte do que sobrar do pagamento das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), pela Caixa Econômica.
"A maior parte irá para o pagamento de dívidas, outra parte menor, para o consumo, mas para quem não é aplicador profissional, o que sobrar irá para a poupança", aponta o especialista.
Em termos de ganhos, a poupança registra rentabilidade de 8,20% nos últimos 12 meses até o final de março, frente uma inflação acumulada ao consumidor (IPC-BR) de 4,55% no mesmo período de comparação, o que mostra um ganho real de 3,65 pontos percentuais aos poupadores.
Entre o público de alta renda e de maior conhecimento financeiro, ambos os educadores apontam que há a possibilidade de migração da poupança para fundos de renda fixa e para o Tesouro Direto.
"Mesmo com a baixa dos juros [da Selic], quem tiver mais de R$ 50 mil consegue custos de administração menores nos fundos. A renda fixa ainda tem uma boa rentabilidade no horizonte de longo prazo", diz o educador Edward Júnior.
Se a taxa básica de juros (Selic) cair abaixo de 8,50% ao ano em 2018, Edward diz que a poupança perderá rendimento por causa da fórmula de vinculação com a Selic, mas ainda assim, será uma aplicação segura para o curto prazo, de seis meses a um ano. "A poupança não tem imposto de renda. Num fundo de renda fixa, a alíquota sobre ganhos só cai para 15% depois de dois anos."
Em linha semelhante, Edélcio Fonseca sugere o Tesouro Direto como alternativa. "Mais e mais pessoas estão se informando sobre a aplicação em títulos públicos federais pela internet. Com apenas R$ 30 já é possível investir", afirma.
O custo de aplicar no Tesouro Direto fica entre 0,30% ao ano (taxa de custódia) até 0,80% ao ano, dependendo da taxa de administração nas corretoras e nos grandes bancos.
Números do varejo - Ontem, a Anbima informou que o varejo tradicional - que atende clientes de menor renda - cresceu 3,3% no ano passado para R$ 854,7 bilhões em recursos, frente os R$ 827,1 bilhões registrados em 2015.
Nesse segmento, a poupança tem participação de 62,5%, ou R$ 534,2 bilhões. Enquanto fundos de renda fixa mostram fatia de 12,5%, e os certificados de depósito bancário (CDBs) com 7,9% de participação, e 8% em letras de crédito imobiliário (LCIs), e 3,2% de LCAs (letras do agronegócio).
No varejo alta renda, o aumento de patrimônio foi de 18,6% em 2016 para R$ 696,6 bilhões. Nesse conjunto populacional de 5,65 milhões de clientes, a poupança tem participação menor (11,5%) contra 35,5% dos fundos de renda fixa, e de 12,3% em CDBs.
Em teleconferência de imprensa, o presidente do Comitê de Varejo da Anbima, José Rocha, divulgou que o número de investidores do varejo tradicional recuou 4,2% para 63,85 milhões de clientes em 2016, ante 66,64 milhões em 2015.
O segmento de varejo alta renda ganhou 582 mil adesões no ano passado, um crescimento de 11,5% sobre os 5,068 milhões de clientes em 2015.
Mas essa elevação de dois dígitos na alta renda não compensou a saída de 2,2 milhões de clientes do total do varejo. A soma do segmento alta renda com o tradicional totalizou 69,5 milhões de clientes em 2016, frente os 71,7 milhões registrados em 2015.
No ponto mais alto da pirâmide social, os 112 mil clientes de private banking (milionários) tiveram uma evolução de 16,7% do patrimônio para o montante de R$ 831,59 bilhões. "A Selic ficou em 14% na média, e o Ibovespa subiu 38%", justificou João Albino, presidente do Comitê de Private Banking da Anbima.