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12/12/2019

Copom deve cortar Selic ao menor patamar da História. Entenda o impacto sobre economia e investimentos

A expectativa do mercado é que o comitê, ligado ao Banco Central (BC), reduza a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 4,5% ao ano.

O Comitê de Política Monetária (Copom) fará sua última reunião do ano nesta quarta-feira. A expectativa do mercado é que o comitê, ligado ao Banco Central (BC), reduza a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 4,5% ao ano. Se as projeções se confirmarem, a Selic cairá a um novo piso histórico. Há três anos, ela superava o patamar de 14%.

Alguns analistas avaliam que a taxa pode cair um pouco mais no ano que vem, apesar das pressões do dólar e dos preços altos da carne, que contribuíram para uma inflação maior que a esperada no mês passado.

 

No mundo, também há uma tendência de juros baixos. Em outubro, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduziu a taxa nos EUA para até 1,75% ao ano . A expectativa é que, na reunião desta quarta-feira, a instituição mantenha este patamar.

Os reflexos dos juros em nível nunca antes alcançado no Brasil são percebidos em várias áreas: do financiamento da casa própria à dívida do governo, passando pelo desempenho dos investimentos. Entenda em cinco pontos o impacto da Selic baixa na economia brasileira.

 

Financiamento imobiliário

 

Os empréstimos imobiliários são uma das linhas de crédito mais rapidamente afetadas pela queda da Selic. Hoje, quase 70% desses empréstimos habitacionais são concedidos pela Caixa Econômica Federal.

Nos 12 meses encerrados em outubro, o crédito para aquisição e construção de imóveis com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) somaram R$ 73,2 bilhões, alta de 37,3% ante os 12 meses anteriores. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Um dos principais fatores para esse salto na demanda foi a redução da taxa básica de juros ao longo do ano, levando Caixa e bancos privados a cortar algumas vezes a taxa de seus financiamentos imobiliários

Especialistas do setor costumam afirmar que uma queda de dois pontos percentuais na taxa Selic dá a 500 mil famílias por ano a oportunidade de comprar sua primeira casa.

No entanto, o desemprego ainda elevado e a atividade econômica fraca são freios para um aumento maior do número de brasileiros dispostos a adquirir um imóvel.

 

Rentabilidade dos investimentos 

 Os poupadores brasileiros se acostumaram a investir em títulos da dívida pública, altamente seguros e rentáveis. Mas isso mudou com a queda da taxa Selic, que remunera a maior parte dos títulos.  Até o FGTS que sempre teve correção inferior à inflação está mais atraente.

Com os títulos do Tesouro rendendo menos e inflação sob controle, obter uma boa rentabilidade com aplicações de renda fixa se tornou mais difícil, demandando mais esforço do investidor para comparar taxas de administração.

A poupança, que sempre esteve entre as aplicações favoritas dos brasileiros, tem sido deixada de lado. No acumulado dos 11 primeiros meses do ano, a caderneta registrou saques líquidos de R$ 3,8 bilhões, de acordo com o Banco Central.

Na busca por mais rentabilidade, os investidores têm se voltado para o mercado de capitais, mais arriscado, mas que oferece maior retorno.

A Bolsa também tem atraído cada vez mais gente. O número de investidores pessoas físicas alcançou a marca de 1,5 milhão em agosto, alta de 64% desde o início do ano.

 

Custo para o governo

 

 A combinação de inflação baixa e menores taxas de juro também alivia os custos para o governo se financiar no mercado. Três quartos da dívida pública brasileira são indexados à Selic.

Na avaliação do ministro da Economia, Paulo Guedes, com a redução da Selic, o Brasil vai economizar R$ 96 bilhões no custeio da dívida pública.

Em outubro, a despesa do governo com juros da dívida somou R$ 349,2 bilhões em últimos 12 meses, equivalente a 4,96% do PIB. Foi o menor nível em cinco anos, segundo o Banco Central, mesmo com um salto de 70% no tamanho da dívida bruta no período.

Em janeiro de 2016, quando a taxa básica estava em 14,25% ao ano, o governo estava gastando o equivalente a 9% do PIB com os juros da dívida, ou R$ 539,98 bilhões em 12 meses.

 

Financiamento para empresas

 

As empresas também se beneficiam da redução dos custos de financiamento. Com os juros mais baixos, conseguem empréstimos de forma mais barata.

Além disso, os juros ajudam na redução do risco-país, que também diminuem os custos para as empresas.

Fica mais fácil para as empresas obterem crédito bancário e também financiamento via mercado de capitais - por meio da emissão de títulos como debêntures ou de ações negociadas em Bolsa.

Até outubro de 2019, de acordo com a Anbima, o mercado de capitais doméstico captou R$ 311,2 bilhões, 54% acima do volume captado no mesmo período do ano passado (R$ 202,6 bilhões).

Nas ofertas de ações por empresas, brasileiros têm sido os principais investidores. Com a ampliação da presença de pessoas físicas, esses investidores já estão influenciando o preço das ações.

 

Estímulo para economia

 

O corte de juros ajuda a impulsionar o crescimento da economia. Com o custo do financiamento menor, consumidores tendem a comprar mais e empresas, a investirem.

A recuperação da economia brasileira depois da recessão de 2015 e 2016 é a mais lenta da História. A atividade fraca e a inflação sob controle, abaixo da meta de 4,25% fixada para este ano, permitiram que os juros caíssem.

Essa redução dos juros, que deve se prolongar este ano e no próximo, fez o mercado aumentar a previsão de crescimento da economia.

Especialistas alertam, no entanto, que a elevada inadimplência pode fazer o consumo das famílias, uma das molas da recuperação econômica, perder fôlego. Dados do Banco Central mostram que, em setembro, 44,8% da renda anual dos brasileiros estavam comprometidas com dívida.

 

FONTE: O GLOBO