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12/05/2022

Construtoras veem alívio; indústria do aço, ‘medida inadequada’

Para incorporadores, redução na tarifa para importação de vergalhões de aço agrada, mas não resolve o problema do setor com o custo do material

A redução na tarifa para importação de vergalhões de aço, de 10,8% para 4%, anunciada ontem pelo Comitê-Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex), agradou os incorporadores, mas não resolve o problema do setor com o custo do material.

Segundo Fernando Carvalhal, diretor de engenharia da incorporadora Gamaro, o aço chega a representar até 8% do preço das obras. Os vergalhões têm função estrutural e são usados no concreto armado. Ele observou um aumento de 68% no preço do aço do fim de 2020 para cá, o que tem grande impacto sobre o custo total das obras. “Estamos com um empreendimento no Brooklin [bairro de São Paulo] com a mesma quantidade de aço da Torre Eiffel”, afirma.

 

O diretor da incorporadora enxerga a redução da tarifa de importação como uma ajuda ao setor, por permitir ao menos o estudo da importação do material.

Opinião semelhante tem Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do Sinduscon-SP, sindicato das construtoras do Estado de São Paulo. Para ele, a medida é um auxílio, mas a raiz dos preços elevados do aço está na falta de competição entre os produtores do material no país e no fato de as construtoras não terem alternativa a não ser comprar deles, uma vez que a obra é iniciada. “Se sou obrigado a comprar e tenho dois fornecedores, o que eles pedirem eu tenho que pagar. A única coisa que resolve esse problema é concorrência”, afirma.

Zaidan chama de “guerra de narrativas” a troca de acusações entre representantes da indústria do aço e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que tiveram um embate nesta semana sobre o aumento real do metal e quanto isso tem afetado as obras no país.

 

A CBIC divulgou um estudo na terça-feira que aponta o aço como o material que mais impactou no aumento total do custo das obras nos últimos dois anos. Entre julho de 2020 e janeiro de 2022, teria representado quase 22% do aumento do preço de um prédio de quatro andares.

Para o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a decisão do governo de cortar a tarifa de importação foi “inadequada”. Ele e outros representantes do setor reuniram-se anteontem com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para tentar impedir o corte do imposto.

 

Mello Lopes afirmou que não há excepcionalidade que justifique a redução de impostos. O mercado brasileiro está abastecido e não existe especulação com preços, segundo ele.

Na avaliação dele, a decisão é “mais inadequada ainda” quando se considera que países produtores de aço tomam medidas para proteger suas indústrias do excesso de produção de produtos siderúrgicos que há no mundo. Há medidas restritivas à importação nos Estados Unidos e na União Europeia, exemplificou. No Brasil, a única proteção é a tarifa, que agora foi reduzida. “O mercado é soberano e vai responder pelo impacto da medida”, disse o executivo.

 

Favorável ao corte proposto pelo governo federal no imposto de importação sobre vergalhão de aço, a indústria de construção diz que a medida pode amenizar o aumento de preços em um insumo que representa, em construção de habitações mais populares, cerca um terço do custo de material.

 

Segundo José Carlos Martins, presidente da CBIC, a alta dos preços de aço no país foi certamente influenciada pela elevação de cotações de commodities. Ele diz, porém, que os preços domésticos subiram mais, que há “gordura” neles e por isso é preciso fazer um “choque de oferta”.

Os custos da construção, defende, subiram mais que o poder aquisitivo das famílias. De julho de 2020 até o fim do ano passado, diz, os custos de insumos do setor, incluindo mão de obra e material, subiram 30%, em taxa superior à da inflação do período.

 

Já Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), não vê motivos para existir qualquer barreira à entrada de aço estrangeiro e ressalta que a redução aprovada vale apenas até o fim do ano. “Se temos no Brasil uma indústria de aço competitiva e com bom preço, não tem por que haver Imposto de Importação.”

 

A entidade trabalha com um aumento de 101% nos últimos dois anos, de acordo com o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), da FGV. De acordo com França, isso tem forçado as incorporadoras a elevar o preço dos imóveis, o que aumenta o déficit habitacional do país.

Leonardo Correa e Caio Greiner, analistas do BTG, escreveram em relatório que a redução do imposto terá efeito pequeno sobre a redução do preço do aço, mas deve limitar novos aumentos no material no curto prazo. De acordo com eles, antes da redução o aço nacional tinha um desconto de 11% sobre o importado, que passou para 5% agora.

 

Matéria publicada em 12/05/2022

FONTE: VALOR ECONôMICO