Construtoras participantes de levantamento realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), na última sexta-feira, avaliam que há desabastecimento de aço. “A percepção da maioria das empresas é a de não estar recebendo aço em quantidade suficiente”, diz o presidente da CBIC, José Carlos Martins. Questionado sobre a razão para isso estar ocorrendo, Martins afirmou que se trata de “nó a ser descoberto”.
“Tem havido sistemáticos aumentos do preço do aço. Quando a construtora tenta comprar da siderúrgica e não consegue, vai na distribuidora e se depara com um valor muito alto”, acrescenta o presidente da CBIC. O levantamento foi realizado com 200 empresas. Do total, 84% informou a percepção de desabastecimento de aço em suas regiões.
Hoje, a CBIC apresentou o levantamento ao ministério da Economia e propôs que o imposto de importação do aço longo seja zerado por seis meses. “É preciso haver um choque de oferta”, afirma Martins. Até a próxima semana, haverá novo encontro com o ministério da Economia.
“Não há desabastecimento de aço”, diz o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, que também participou do encontro no ministério da Economia. Segundo ele, algum problema localizado que possa existir tende a estar relacionado a dificuldades de pequenas e médias empresas encontrarem o insumo em distribuidores.
“No primeiro bimestre, as vendas internas de aços longos cresceram 23% na comparação anual”, diz Lopes. Dados do Aço Brasil indicam que a comercialização do insumo somou 1,517 milhão de toneladas no período. “Estamos produzindo e entregando mais aço do que antes da pandemia de covid-19”, acrescenta Lopes. Segundo o executivo do Aço Brasil, as siderúrgicas têm informado também redução dos prazos de entrega dos produtos.
Das construtoras entrevistadas pela CBIC, 14,2% disseram receber aço das siderúrgicas em até 30 dias, enquanto 38,3% informaram que o prazo fica entre 30 e 60 dias. As 47,5% restantes têm registrado recebimento em mais de 60 dias. A sondagem da CBIC indicou que, quando há falta por parte das siderúrgicas, 52,5% das empresas não encontram aço em revendedores. Setenta e dois por cento das empresas disseram que não são atendidas em todas as bitolas nos pedidos feitos às fabricantes.
O presidente executivo do Aço Brasil diz ter solicitado à CBIC que demonstre, concretamente, qual o volume de desabastecimento do mercado pelas siderúrgicas. “Se existir esse desabastecimento, vamos procurar as indústrias. Caso as siderúrgicas não possam atender às construtoras, eu também vou pedir ao ministério da Economia redução do imposto de importação”, diz Lopes.
Em relação às altas dos preços de aço, o representante do setor siderúrgico afirmou que os valores “refletem as condições de mercado e o impacto do boom das commodities”. Ele citou dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) que apontam aumento de 65,5% do vergalhão, ante as altas de 150% da sucata, 134% do minério de ferro, 93,4% do ferro gusa, 81,7% do níquel, 61% do zinco e 40% do carvão entre fevereiro de 2020 e fevereiro deste ano.
Segundo Martins, também tem havido falta de bloco cerâmico, PVC e produtos de cobre.