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20/01/2023

Construtoras têm desempenho aquém do esperado no 4º tri, mas perspectiva para 2023 é de forte demanda (Valor Econômico)

Nas últimas semanas, MRV, Cyrela, Cury, Direcional, EZTec, Even, Helbor, Mitre, Moura Dubeux, RNI, Plano&Plano, Tegra e Tenda reportaram suas prévias operacionais referentes ao quarto trimestre

As perspectivas dos analistas para o setor imobiliário em 2023 seguem bastante otimistas, apesar dos sinais de desaceleração nas vendas e lançamentos em alguns casos, de acordo com as prévias operacionais divulgadas pelas principais construtoras do mercado brasileiro. Nas últimas semanas, MRV, Cyrela, Cury, Direcional, EZTec, Even, Helbor, Mitre, Moura Dubeux, RNI, Plano&Plano, Tegra e Tenda reportaram suas prévias operacionais referentes ao quarto trimestre.

 

Apesar do volume de lançamentos robusto, a performance da gigante MRV&Co foi prejudicada nos últimos três meses do ano passado por vendas fracas e “um grande consumo de caixa”, na avaliação dos analistas do BTG Pactual, Gustavo Cambauva, Elvis Credendio e Bruno Tomazetto. Segundo eles, parte do mercado parece ignorar as recentes mudanças positivas anunciadas para o programa habitacional de baixa renda, que devem beneficiar a empresa.

 

Para Pedro Hajnal, analista do Credit Suisse, vemos um momento positivo para as construtoras de baixa renda. “Acreditamos que a MRV&Co está a caminho de recuperar suas margens e reverter a queima de caixa, entretanto, as vendas no Brasil preocupam e as operações nos EUA demandam investimentos”.

 

Para os analistas Fanny Oreng, Antonio Castrucci e Matheus Maloni, do Santander, o desempenho aquém do esperado da MRV&Co é reflexo de aumentos contínuos no preço médio das unidades vendidas, maior concentração de lançamentos na segunda metade do trimestre e impactos negativos das eleições e da Copa do Mundo. “Os contínuos aumentos de preços devem desempenhar um papel importante em melhorar a lucratividade da MRV&Co, mas a lenta conversão para margens brutas pode continuar a limitar o desempenho da ação no curto prazo”, pondera o time do Santander.

 

Outro destaque no segmento de baixa renda, a Direcional decepcionou em lançamentos e vendas no quarto trimestre, com destaque para o baixo volume de lançamentos de renda média da Riva. Os analistas do Citi, André Mazini, Hugo Soares e Renata Cabral, porém, apontam que o “core business” de baixa renda da Direcional tem lançamentos em alta e velocidade de vendas em um nível “muito saudável” de 17%.

 

A casa também diz continuar confiante de que o segmento de baixa renda ainda irá se beneficiar de reformas nos programas habitacionais. Os analistas do Santander concordam e ressalvam que as vendas contratadas da Direcional apresentaram forte retomada em dezembro, segundo a empresa.

 

Com resultados operacionais acima de seus pares, Cyrela mostrou capacidade de se adaptar às condições adversas e surpreendeu. Essa é a avaliação de Ygor Altero, analista da XP, ao ressaltar que 52,8% do total de vendas da companhia foram no segmento de alto padrão, refletindo a resiliência do segmento mesmo com as incertezas econômicas. Para Bruno Mendonça e Pedro Lobato, analistas do Bradesco BBI, os números robustos da Cyrela contrariam a percepção cautelosa do mercado para o segmento de média e alta renda.

 

Hajnal, analista do Credit, concorda, mas questiona se a companhia conseguirá manter ritmo de lançamentos em 2023 por conta da deterioração das condições econômicas. Ele reforça, no entanto, que a empresa se mantém como a construtora mais bem posicionada no setor de média e alta renda e deve manter performance elevada, com bom retorno sobre investimentos.

 

Com desempenho mais neutro no quarto trimestre, a EZTec mantém o seu nível de estoques controlado, o que é um bom sinal, segundo Daniel Gasparete, André Dibe e Bruna Breunig, do Itaú BBA. Já Bruno Mendonça e Pedro Lobato, analistas do Bradesco BBI, consideram que os resultados mostram uma mistura de lançamentos fracos e vendas relativamente boas em meio às circunstâncias atuais do mercado, que contribuíram para uma redução positiva nos níveis totais de estoque.

 

No caso da Even, a performance mais fraca no período é atribuída a decisões de estratégia com um posicionamento mais conservador, apontam Mendonça e Lobato, do Bradesco BBI. A desaceleração brusca da Even (mesmo se for provada como decisão correta) “pode causar retração no lucro por ação e receitas nos próximos trimestres”, afirmam.

 

Os números da Helbor vieram em linha com o esperado pelo Bradesco BBI, que agora se concentram nos projetos que serão concluídos em 2023. “A entrega de projetos prevista para 2023 e 2024 poderia potencialmente trazer geração de caixa significativa e finalmente aliviar sua dívida, a principal razão por trás do desconto da Helbor”, afirmam Mendonça e Lobato em relatório.

 

A Tenda, considerada o patinho feio do setor, registrou melhora nos últimos meses de 2022, com destaque para o forte índice de velocidade de vendas. “Estamos otimistas com o segmento de baixa renda após as recentes mudanças no programa Casa Verde Amarela – que voltará a se chamar Minha Casa, Minha Vida. Mas, apesar de uma avaliação barata, a Tenda enfrenta um cenário de curto prazo difícil devido ao fraco momento operacional”, comentam os analistas do BTG, Cambauva, Credendio e Tomazetto. Os analistas do Bradesco observam, inclusive, avanços no processo de recuperação das margens da Tenda.

 

Matéria publicada em 20/01/2023

FONTE: VALOR ECONôMICO