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23/01/2017

Construtoras endividadas têm forte valorização nas ações

O principal ponto que destravou o setor foi o corte da taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,75 ponto percentual pelo Copom na semana passada, dizem analistas.

Ações de companhias endividadas da construção civil tiveram impulso adicional na semana passada, com o mercado absorvendo com mais força a nova perspectiva de ritmo de cortes de juros no Brasil e perspectivas de mudança nas regras do setor. Os papéis de Rossi Residencial e PDG chegaram a subir 20% em alguns pregões, passando à liderança da Bovespa em 2017.

Levantamento feito pelo Valor Data mostra que os papéis do segmento dominam as maiores altas do mercado, levando-se em conta as 150 ações de maior volume. Dos dez papéis que mais sobem no ano até sexta, seis são do setor de construção. PDG Realty ON lidera com valorização de 181,5%, seguida por Rossi Residencial ON, com 177,7%. Outros destaques são JHSF (56,03%), Helbor (43,51%), Gafisa (34,41%) e Tecnisa (25,93%).

O principal ponto que destravou o setor foi o corte da taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,75 ponto percentual pelo Copom na semana passada, dizem analistas. A medida fez com que o mercado projetasse um ritmo mais forte de corte de juros, com a taxa chegando a um dígito no final do ano. Para analistas, o corte de juros levará a um aumento na demanda por imóveis novos, já que os financiamentos ficam mais baratos.

A Selic menor ajuda ainda mais as companhias endividadas, justamente aquelas que tiveram maior alta nas ações. Mas analistas acreditam que a ajuda pode ter chegado tarde nesses casos. A PDG, por exemplo, em dezembro não pagou juros a debenturistas, o que tornou ainda mais frágil a situação da companhia, que tem patrimônio líquido negativo de R$ 838 milhões. No caso da Rossi, a família voltou ao comando da incorporadora no começo do ano. A Rossi tem uma dívida bruta de R$ 2 bilhões e está negociando um acordo com os credores.

Igor Lima, analista da Canepa Gestora de Recursos, diz que a baixa de juros pode ter vindo tarde demais para Rossi e PDG, que "estão à beira de ser inviáveis". Esses três papéis não fazem parte dos fundos da casa.

Um terceiro fator que ajuda o segmento é a expectativa de mudanças regulatórias. Governo e setor privado tentam fechar a versão final do texto que trata da cobrança de multa em caso de cancelamentos da vendas de imóveis, os chamados distratos. "Essa medida vai equilibrar a balança entre empresa e consumidor", disse Lima, da Canepa. Ele acrescenta que o possível aumento no limite de renda para o programa Minha Casa, Minha Vida também ajudam.

O último ponto é o desempenho das ações nos últimos anos. Estrelas da Bovespa no passado, os papéis das construtoras amargaram fortes quedas com a alta de juros e a recessão. Agora, têm amplo espaço para recuperação.

Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos, acredita que o movimento com as ações das construtoras tem caráter especulativo. Para ele, a queda dos juros não será suficiente para fazer com que as empresas que tiveram as maiores altas nas ações consigam elevar a receita nos próximos meses. "Só isso não será suficiente para fazer com que as vendas sejam retomadas", diz. Apesar da valorização dos papéis, a XP não recomenda investimentos no setor. "Consideramos ativos de alto risco", afirma Plácido.

As ações da Helbor são a "cereja do bolo", na visão de Lima, da Canepa. Na visão dele, a empresa é endividada e teve problemas com distratos por atuar em uma área que sentiu mais os efeitos da crise econômica, que é o interior de São Paulo. Mas o analista acredita que a companhia tem uma execução "excelente" e é bem gerida. A relação entre a dívida líquida e o patrimônio líquido consolidado da empresa ao final de setembro era de 107,2%. 

FONTE: VALOR ECONôMICO