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22/09/2021

Construção civil visa ganho de eficiência

Emissões diretas de CO2 das edificações precisam ser reduzidas pela metade até 2030

A construção civil é responsável por 38% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), que contribuem para aumentar os efeitos nocivos da mudança climática, segundo Relatório de Situação Global 2020 para Edifícios e Construção, elaborado pela agência ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em dezembro. O índice contém um alerta: “As emissões diretas de CO2 dos edifícios precisam ser reduzidas pela metade até 2030 para encaminhar o setor para a neutralidade climática até 2050.”

O setor tem uma longa lista de tarefas a cumprir para alcançar o carbono zero. “Prédios totalmente envidraçados pertencem ao passado. A tendência agora são as fachadas com elementos vazados, que deixam entrar o ar”, diz o engenheiro Pedro Lombardi Filho, doutorando em saúde global e sustentabilidade na Faculdade de Saúde Pública da USP. “Os projetos estão sendo pensados visando eficiência energética e economia de recursos, com uso de madeiras de reflorestamento, louças e metais sanitários ecoeficientes e tintas à base de água”, indica o engenheiro.

Fechar o ciclo da economia circular de maneira ideal não é fácil. Embora a responsabilidade compartilhada, que torna toda a cadeia de consumo responsável pelo descarte correto, esteja prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), lei de 2010, esse é um conceito que ainda não foi absorvido pelo público em geral.

De acordo com o estudo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2010, ano da promulgação da PNRS, os resíduos da construção somavam pouco mais de 33 mil toneladas anuais; em 2019, chegaram a 44,5 mil toneladas, alta de 33% em uma década, enquanto o total de resíduos sólidos cresceu bem menos, cerca de 17%.

O caminho para acelerar a mudança passa por iniciativas como as da Leroy Merlin, que implantou pontos de coleta seletiva nas lojas em 2009, antes mesmo da obrigatoriedade da lei. Hoje, a empresa conta com certificações como a Aqua, por economizar mais de 7.800 m³ de água potável ao ano em 25 unidades e já destinou para a reciclagem mais 290 toneladas de lâmpadas, 492 toneladas de pilhas e baterias, e mais de 14 toneladas de eletroeletrônicos descartados nas lojas. “A operação nas estações de coleta seletiva envolvem mão de obra de pessoas em condições de vulnerabilidade social, gerando emprego e renda para a comunidade do entorno”, relata Andressa Borba, diretora de desenvolvimento responsável da Leroy.

A incorporadora Tegra, de acordo com Patrícia Domingues, diretora executiva de construção, conseguiu reciclar 99% das peças excedentes nos canteiros em 2020, superando a meta, que era de 85%. “A companhia fez um inventário de CO2 na sua operação e, desde 2019, compensa todas as emissões das obras, inclusive considerando o efeito provocado pelos fornecedores”, afirma.

Com objetivo de agregar sustentabilidade aos projetos, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), que representa cerca de 50 mil empresas, lançou em dezembro uma calculadora de consumo energético e emissões de carbono na construção civil (CECarbon), desenvolvida em parceria com a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ) e a Secretaria Nacional de Habitação (SNH). A ferramenta auxilia na mensuração do consumo energético e das emissões de gases do efeito estufa nos canteiros de obras e pode ser utilizada para obter certificações ambientais.

“A ferramenta tem por objetivo ser um repositório de dados, que poderão funcionar como subsídios aos órgãos governamentais e agentes financiadores para a criação de políticas públicas estabelecidas de acordo com requisitos de sustentabilidade”, afirma Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, vice-presidente da entidade. “Nossa responsabilidade é grande, já que representamos 27,6% da construção brasileira, que por sua vez equivalem a 4% do PIB nacional.”

FONTE: VALOR ECONôMICO