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10/11/2023

Como Anny Meisler tem surfado o boom do mercado imobiliário de luxo (Valor Econômico)

LZ Planejado, de Anny Meisler, já confeccionou e instalou móveis sob medida para mais de 300 apartamentos, principalmente em parceria com incorporadoras

Por Daniel Salles

A primeira “dor” para a qual Anny Meisler diz ter encontrado uma solução foi apresentada pela Cyrela. Foi há mais de uma década, quando a incorporadora e construtora de Elie Horn estava às voltas com o lançamento de um complexo com dez torres na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Então funcionária da empresa do pai, que fabrica piscinas, Meisler convenceu a Cyrela a encarregá-la da compra de todos os móveis necessários para os lobbies e as demais áreas comuns do empreendimento recém-construído.

“Gastei só metade do valor estipulado e descobri uma ‘dor’ para a qual não havia solução no mercado”, recorda ela, nascida no Rio de Janeiro há 40 anos. Era de praxe, afinal, que as incorporadoras comprassem mobiliário de fornecedores diferentes, o que se traduzia em custos maiores e dor de cabeça à parte.

Daí a LZ, que a carioca fundou em 2009 e que tem surfado o boom do mercado imobiliário de luxo. A empresa decora, atualmente, cerca de 30 empreendimentos por mês. Atende desde edifícios residenciais de companhias como Gafisa e Cyrela até restaurantes, shoppings e hospitais. Os móveis utilizados levam a assinatura de designers renomados, como Giacomo Tomazzi e Zanini de Zanine - para atender os consumidores finais, ela criou a LZ Studio, que dispõe de dois showrooms no Rio.

Formada em administração de empresas, Meisler se deu conta de mais uma “dor” do segmento - e de outro nicho lucrativo - no começo deste ano. O sofrimento, nesse caso, tem a ver com o estado no qual os apartamentos recém-finalizados costumam ser entregues para os compradores - sem móveis. “Não faria mais sentido entregá-los já com os armários da cozinha, dos quartos e dos banheiros prontos?”, perguntou-se, na época, a empresária.

Em resposta, ela montou, em janeiro, um novo braço para sua companhia. Chamado de LZ Planejado, ele já confeccionou e instalou móveis sob medida para mais de 300 apartamentos, principalmente em parceria com incorporadoras. Estas costumam se aliar ao novo braço da LZ para oferecer um diferencial aos compradores. “Não há nada melhor do que receber as chaves de um apartamento novo já mobiliado.”

Qualquer pessoa, no entanto, pode contratar a LZ Planejado - até quem mora no mesmo endereço há anos e anos. “Muitas pessoas não investem em móveis planejados porque não querem ter a preocupação, por exemplo, de contratar um marceneiro e de lidar com eventuais atrasos e defeitos de acabamento”, diz Meisler.

O novo braço da empresa é a principal explicação para o volume de receitas previsto para este ano: 30% maior do que em 2022 (ela não revela quanto fatura). Para 2024 está previsto um salto de 25%. “Fiz algo que todo empreendedor deveria fazer: ouvir os próprios clientes ativamente”, diz Meisler, justificando o panorama de crescimento. “Qualquer empresa pode ampliar seu campo de atuação. Não precisa se restringir a um único segmento.”

Meisler identificou mais uma “dor” do setor durante a gravidez de Tom, o segundo filho dela e do empresário Rony Meisler, fundador da grife Reserva, com quem está casada há 15 anos - o mais velho, Nick, está com 10 anos; Chiara, a caçula, tem 6; e o do meio tem 8. Na hora de decorar o quarto de Tom, ela bateu o martelo em um papel de parede comprado fora do país - que, quando enfim chegou, foi instalado de ponta-cabeça.

Foi a gota d’água que a levou a montar, em 2016, a LZ Mini, mais um braço da LZ. Especializada em móveis e objetos decorativos para crianças, além de enxoval, essa marca tem duas lojas no Rio e revende seus produtos para cerca de 50 multimarcas do segmento.

O plano inicial, de multiplicar a LZ Mini pelo país por meio de franquias, foi deixado de lado. “Senti na pele como é difícil encontrar o que é preciso para decorar um quarto infantil e criei uma loja que resolve o transtorno”, resume a fundadora, que também penou na hora de preparar o aposento do primogênito. “Foi tudo muito caro, demorado e nada prático.”

O relacionamento de Anny e Rony Meisler remonta à Polônia, de onde vieram antepassados de ambos para fugir da ascensão do nazismo - trata-se de duas famílias judias. Quis o destino que um avô dele, Benjamin Meisler, e uma avó dela, Miriam Zawadzki, hoje com 94 anos, aportassem no Brasil exatamente no mesmo navio, em 1939.

Anny e Rony foram amigos de infância e colegas de escola e de faculdade, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, cidade onde ambos cresceram e vivem até hoje. “Somos prova de que melhor amigo do sexo oposto realmente não existe”, diz a empresária, ao resumir a trajetória do casal.

Da Reserva, criada por Rony em 2004, ela sempre foi próxima. “Convivo com a marca, intensamente, desde o início”, diz. Em 2020, a grife foi adquirida pela Arezzo & Co por R$ 715 milhões - no segundo trimestre deste ano, a holding registrou R$ 1,4 bilhão de receita bruta e R$ 9 bilhões de valor de mercado. Com a venda, Rony virou acionista do grupo de Alexandre Birman e se mantém à frente da Reserva e das marcas derivadas dela.

Uma delas é a Reversa, da qual Anny Meisler é uma espécie de embaixadora. “Sou a alma dessa marca”, diz a empresária. Lançada no meio do ano passado, nada mais é do que a versão feminina da Reserva. “É uma grife urbana na qual as mulheres são protagonistas, e meu papel é contribuir com as ativações.” A única loja física da nova marca situa-se no Rio de Janeiro.

A convite do braço de empreendimentos imobiliários do Opportunity e da Balassiano Engenharia, ela deu mais um passo neste ano: assumiu a curadoria de um edifício residencial por inteiro, o Alma, em Ipanema, em fase de construção. “Sou responsável pela escolha tanto dos móveis das áreas comuns quanto pelos armários planejados dos apartamentos.”

Sem dar maiores detalhes, ela conta que uma incensada marca de perfume a convidou, recentemente, para desenvolver uma essência para ambientes residenciais. “Credito 50% da minha trajetória ao meu esforço e 50% à sorte”, afirma. “Quando surgem oportunidades do tipo, não penso duas vezes em agarrá-las.” Não há dor, afinal, como a do arrependimento

FONTE: VALOR ECONôMICO