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23/12/2015

Com recessão, a procura de empresas por crédito recua 2,8%

Também está havendo uma desaceleração do crédito imobiliário, devido à piora nas condições de financiamento (alta nos juros e aumento da exigência de valor de entrada). Os financiamentos habitacionais subiram 14,6% no ano, a metade do percentual de alta registrado no mesmo período de 2014, que era de 28%.

Com a recessão, caiu a oferta de crédito pelo sistema financeiro. Na média, a concessão de novos empréstimos com recursos livres recuou 0,3% em novembro, frente a outubro, já descontando efeitos sazonais e a inflação, destaca o banco Itaú. No caso dos empréstimos aos consumidores, houve ligeiro aumento na oferta de crédito, de 1,9%. Mas, para as empresas, o número foi negativo (-2,8%). No crédito direcionado — recursos subsidiados, como do BNDES e usados no financiamento habitacional — houve queda de 2,5% nos empréstimos às empresas e recuo de 1,6% nas concessões às pessoas físicas.

Segundo Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, a crise na economia afeta diretamente as empresas, reduzindo a procura por linhas de financiamento de capital de giro. Por outro lado, as concessões do BNDES, que cresciam a um ritmo de 28% no ano passado, baixaram para 10,7% entre janeiro e novembro deste ano, devido à decisão do governo de diminuir o papel do banco na expansão do crédito, em condições mais facilitadas ao setor produtivo. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada nas operações do BNDES, subiu de 5% para 7,5% ao ano no período, e os subsídios foram revisados.

O casal de microempresários Célia Ribeiro, 40, e Crislano Tomaz, 39, faz malabarismo com o orçamento para sustentar a casa, os dois filhos e a loja de roupas infantis. Com o poder de compra cada vez menor, as pessoas diminuíram o consumo, e a loja do casal sentiu o peso no caixa. Sem alternativa, eles optaram por cortar as contas de casa para evitar sujar o CNPJ da empresa.

As vendas da loja, contam, caíram pelo menos 30% nos últimos dois anos. Enquanto isso, as contas aumentam.

— Estamos no nosso limite. Abrimos mão das coisas de casa para tentar manter o nome da loja limpo. Cortamos cartão de crédito, abrimos mão do lazer, diminuímos as compras de supermercado. As crianças (de 12 e nove anos) questionam — conta Crislano.

Mesmo com os cortes, o casal não conseguiu evitar as dívidas. Algumas contas passam do prazo. Água e luz chegam quase no vencimento do mês seguinte. Outras dívidas tiveram de ser renegociadas.

AUMENTA A RENEGOCIAÇÃO

Com o agravamento da crise, o BC reduziu sua previsão para a expansão do crédito na economia brasileira este ano, de 9% para 7%. E manteve este patamar na estimativa para o ano que vem. O BC revisou para baixo as concessões de bancos públicos e privados. Já a estimativa para a ampliação das operações de crédito em proporção ao PIB passou de 53% para 54% neste ano; e 55% em 2016.

— Essa desaceleração do crédito se deve principalmente à atividade econômica. Isso acaba refletindo em várias modalidades. Do lado das famílias, é uma tendência que já ocorre há algum tempo. De certa forma, o crédito habitacional ganhou espaço, houve ampliação do comprometimento de renda com o crédito habitacional. Claro que o mercado de trabalho se expandindo em ritmo menor é outro fator que contribuiu para essa moderação do crédito às famílias — disse Maciel.

Segundo ele, houve também uma elevação do crédito renegociado, que somou R$ 25,438 bilhões em novembro. Por outro lado, o relatório do BC mostra que os financiamentos de veículos estão despencando, com queda de 11,4% no ano. No mesmo período do ano passado, o recuo era de 4,5%. Também está havendo uma desaceleração do crédito imobiliário, devido à piora nas condições de financiamento (alta nos juros e aumento da exigência de valor de entrada). Os financiamentos habitacionais subiram 14,6% no ano, a metade do percentual de alta registrado no mesmo período de 2014, que era de 28%. 

FONTE: O GLOBO