Vinícius Pinheiro e Felipe Marques
O tradicional certificado de depósito bancário (CDB) voltou ao radar dos investidores desde o mês passado, graças à combinação de juros em alta e algumas mudanças nas regras para emissão de letras de crédito, que perderam, no fim de maio, a possibilidade de contar com liquidez diária.
Em julho, o registro de CDBs atingiu R$ 180 bilhões, o segundo maior volume do ano, de acordo com dados da Cetip. O maior volume de captação reverteu a tendência de queda do saldo de CDBs, que subiu de R$ 464 bilhões em junho para R$ 472 bilhões no mês passado. Desde pelo menos junho do ano passado, o estoque vinha em queda.
No mesmo período, o estoque de letras de crédito imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA), as principais concorrentes do CDB, que vinha em forte alta todos os meses, permaneceu estável. O saldo de LCI encerrou o mês passado em R$ 193,4 bilhões, ante R$ 193,6 bilhões em junho, e o da LCA ficou em R$ 184,3 bilhões, ante R$ 182,9 bilhão, segundo a Anbima.
São dois os fatores que afetaram a competitividade das letras. Embora os títulos ainda contem com isenção de imposto de renda para pessoas físicas, as operações de crédito que servem de lastro para esses papéis têm ficado mais escassas, o que fez com que algumas instituições financeiras diminuíssem as emissões. O governo também ampliou, em maio, o prazo mínimo de resgate das aplicações para 90 dias - na LCI esse prazo era de 60 dias e na LCA não havia limitação. Já o CDB pode ser resgatado a qualquer momento.
"Havia muito investidor pessoa física e, em especial, pessoa jurídica, que aplicava o fluxo de caixa nas LCAs. Com o fim da liquidez diária nesses papéis, esses recursos precisaram migrar para CDBs ou para fundos", afirma o diretor de um grande banco de varejo. "Mesmo algumas empresas que não tinham necessidade imediata do recurso se assustaram com o prazo mínimo e mudaram de aplicação."
"A tendência é que essa migração continue nos próximos meses", diz o executivo. Além das letras de crédito, outro instrumentos de captação com renda fixa, a letra financeira, mais voltada ao investidor institucional, também tem um prazo mínimo de resgate que pode chegar a dois anos. A volta na captação via CDB também faz parte de um movimento de realocação do portfólio dos clientes dos bancos graças ao avanço da Selic, afirma Carlos Albuquerque, superintendente de produtos da Cetip. "Com a alta dos juros, parte dos recursos que estava na poupança migrou para outras aplicações."
O momento de retração econômica e de instabilidade política, que se reflete em maior incerteza para o investidor, é outro ponto a favor dos CDBs, justamente pela possibilidade de resgate a qualquer momento.
Apesar da aposta de alguns na continuidade do apelo do CDB, não custa lembrar que, embora tenha se recuperado em julho, o saldo de captações do instrumento segue em queda na comparação com mesmo período do ano passado, quando era de R$ 553 bilhões.
Sem necessidade de caixa e conservadores na concessão de crédito, os grandes bancos têm direcionado parte dos recursos dos clientes para outras aplicações, como fundos de investimento e de previdência. Uma maneira de fazer isso é oferecer ao investidor uma remuneração menor pelo CDB. Não custa lembrar, sobre o CDB incide depósito compulsório, que obriga os bancos a recolher 25% do que é captado no Banco Central. Já sobre as letras, não há essa incidência.