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19/07/2019

Capitalizada, Tecnisa ganha novo fôlego

Ontem, as ações da Tecnisa fecharam com queda de 9,49%, cotadas a R$ 1,43

Após três anos praticamente sem fazer lançamentos imobiliários e depois de captar de R$ 445 milhões em oferta subsequente de ações ("follow-on") encerrada na quarta-feira, a Tecnisa vai renegociar dívidas e buscar se recolocar no mercado de lançamentos da capital paulista e da Região Metropolitana de São Paulo. Mais da metade dos recursos (R$ 245 milhões) irão para o pagamento de dívidas, e R$ 200 milhões, para a compra de terrenos. A companhia se prepara para ter mais fôlego em seus lançamentos a partir do próximo ano.

Ontem, as ações da Tecnisa fecharam com queda de 9,49%, cotadas a R$ 1,43. O preço por ação fechado na oferta foi de R$ 1,10, com deságio de 19,7% ante a cotação de fechamento de 5 de julho, quando a Tecnisa divulgou que faria distribuição primária de 300 milhões de ações, com possível lote adicional de até 105 milhões de ações.

Questionado sobre esse deságio, o presidente da Tecnisa, Joseph Nigri, afirmou que o preço é regulado pelo mercado. "Existe um desconto um pouquinho maior do que o usual, mas a ação vinha tendo um comportamento volátil. A operação foi uma vitória, não de goleada, mas vitória", disse Nigri, afirmou ao Valor.

Com a oferta, a participação do controlador na Tecnisa caiu de 48,1% para 25,5%, e o "free float" (fatia de ações em circulação no mercado) aumentou de 52% para 75%. "Houve diluição grande, mas tínhamos uma liquidez muito baixa. Agora, teremos valor de mercado e 'free float' muito maiores. O mercado tem pago um prêmio por liquidez", diz o presidente.

No início de junho, o Valor antecipou que a Tecnisa estava discutindo com bancos de investimento possíveis soluções de capitalização, como "follow-on" ou busca por sócio investidor. Nas contas de um banco próximo à empresa ouvido pela reportagem, naquela ocasião, a Tecnisa precisaria de R$ 200 milhões de injeção de capital para ficar com uma situação financeira mais estável. A oferta anunciada, no início do mês, acima do dobro desse valor, indicando necessidade de mais recursos.

Esta não é a primeira vez em que a Tecnisa recorre a uma captação de ações para equacionar sua situação financeira. Em junho de 2016, a companhia anunciou aumento de capital com valor máximo de R$ 200 milhões, do qual a Cyrela participaria com até R$ 100 milhões. A Cyrela fez aporte de R$ 75 milhões e ficou com 13,62% do capital da empresa, parcela que foi sendo reduzida posteriormente. Em março de 2017, a Tecnisa fez nova chamada de capital, de até R$ 150 milhões.

Após a capitalização concluída nesta semana, a Tecnisa vai renegociar dívidas, buscando adequar o custo às atuais condições da economia, com possibilidade de antecipar vencimentos. "O objetivo da oferta foi deixar a empresa com dívida líquida zero", afirma Nigri. No fim de março, a empresa tinha dívida líquida de R$ 451,1 milhões. "Estamos com estrutura de capital robusta. A intenção é, se tomarmos algum tipo de dívida, que seja barata", diz o executivo. Segundo ele, a Tecnisa poderá emitir debêntures ou certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) desde que atendam a essa condição.

Durante o período da oferta, de acordo com Nigri, bancos sinalizaram que, se a operação fosse concluída, passariam a oferecer à incorporadora "taxas bem baixas" de financiamento à produção com recursos de poupança. "Alguns bancos nos deram taxas bem competitivas, dois ou três pontos percentuais abaixo do que o mercado paga", afirma o presidente.

Segundo Nigri, a Tecnisa tem capacidade para lançamentos de R$ 1 bilhão por ano, o que não significa que esse Valor Geral de Vendas (VGV) será atingido em 2020. A incorporadora está negociando terrenos para desenvolver empreendimentos com unidades de R$ 230 mil a R$ 6 milhões, conforme o perfil do projeto. De acordo com o presidente, a Tecnisa é mais compradora do que vendedora de terrenos, no momento, mas mantém a intenção de comercializar áreas não estratégicas.

Desde maio, a Tecnisa fez dois lançamentos - um projeto com VGV total de R$ 119 milhões e outro, de R$ 178 milhões -, na cidade de São Paulo. O fundo H.I.G. Capital é majoritário nos empreendimentos, e a companhia tem 20%. A incorporadora não apresentava novos projetos desde o último trimestre de 2016. Outro empreendimento em que a Tecnisa é minoritária será lançado neste ano.

Segundo Nigri, a partir de 2020, a Tecnisa voltará a ser majoritária em projetos com VGV até R$ 150 milhões. Em empreendimentos maiores, fará parcerias em modelo semelhante ao fechado com o H.I.G., em que detém fatia menor do projeto, mas recebe taxas de administração das obras e gestão da incorporação, e a distribuição do resultado é desproporcional.

FONTE: VALOR ECONôMICO