A Caixa Econômica Federal anunciou ontem a primeira redução nos juros do financiamento habitacional com recursos da poupança desde abril de 2014. O banco público cortou em pelo menos 0,25 ponto percentual as taxas de juros para pessoas físicas e em 1 ponto percentual as taxas para pessoas jurídicas. As taxas valem para imóveis novos e usados.
A Caixa anunciou ainda redução maior de taxas de juros para os clientes que adquirirem imóveis novos ou na planta cuja construção tenha sido financiada pela Caixa e que passarem a receber salário pelo banco. Nesses casos, o corte de taxas pode chegar a 1,75 ponto. A notícia foi antecipada pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, no começo da tarde de ontem.
"Nossos estudos e indicadores internos nos dão segurança de que podemos baixar juros e manter nossa margem e rentabilidade sem aumentar o risco da carteira e a inadimplência", disse o vice-presidente de habitação da Caixa, Nelson Antonio de Souza.
Além da disposição de liberar R$ 26,8 bilhões até o fim do ano em financiamento habitacional, as novas medidas miram também a situação financeira apertada das construtoras, afligidas pelo aumento dos estoques e dos cancelamentos de vendas. "É uma maneira de aumentar velocidade de vendas de imóveis e diminuir o estoque das construtoras", afirma Souza.
A Caixa já havia adotado medidas neste ano para facilitar o acesso ao financiamento habitacional, depois de uma série de ações restritivas em 2015. Em julho, por exemplo, ampliou a oferta de crédito para imóveis de até R$ 3 milhões. Um pouco antes, em março, o banco havia aumentado juros, mas voltou a financiar até 70% de imóveis usados.
A última vez em que Caixa havia reduzido taxas foi em abril de 2014. Na época, reduziu em 0,2 ponto a taxa cobrada para empréstimos feitos no âmbito do sistema financeiro imobiliário (SFI), para 9,4% ao ano. Já para o sistema financeiro de habitação (SFH), o jejum era maior: o último corte havia sido em maio de 2012, de 0,15 ponto, para 8,85%. O SFH engloba o financiamento de imóveis até de R$ 650 mil, exceto em Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, onde o limite é de R$ 750 mil. No SFI estão operações de imóveis acima desses valores.
Mesmo com a redução de ontem, as taxas estão longe do que era praticado naquela época. Com o corte de ontem, a taxa balcão - aquela para quem não tem relacionamento com o banco - caiu para 11% no SFH e 12,25% no SFI.
Embora o corte de 0,25 ponto na taxa básica Selic anunciado pelo Banco Central em outubro tenha ajudado na decisão, Souza afirma que não foi o único fator considerado pelo banco para baixar os juros. A Caixa tem perdido menos recursos da poupança que seus concorrentes, além de esperar vender cerca de R$ 10 bilhões em carteira de crédito imobiliário ao FGTS até o fim do ano. "Estamos perdendo menos poupança que os demais bancos. Temos grande volume de clientes com tíquete médio de poupança pequeno."
Souza também afirmou que a relação entre cortes da Selic e redução de juros de financiamentos não é automática. Além disso, mesmo após a redução, disse o executivo, algumas taxas de juros cobradas pela Caixa estão em linha com bancos privados, não abaixo.
O executivo afirmou já ver sinais de recuperação na demanda por crédito habitacional. A principal evidência é que, nos últimos dez dias de outubro, após o fim da greve dos bancários, houve um aumento de 44% no volume desembolsado diariamente pelo banco em financiamento da casa própria, na comparação com a média diária de 2016. "Já sinaliza novo momento dentro da habitação. Dá um retomada grande", disse. "Na velocidade que estamos de concessão agora, vamos conseguir executar a meta para o ano."
Neste ano, o orçamento total do banco para crédito habitacional foi de R$ 93 bilhões. Segundo Souza, a meta de 2017 será definida nas próximas semanas.
O setor de construção comemorou as medidas. "O impacto é imediato, é adrenalina na veia", afirma o presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Rubens Menin. Para ele, os efeitos serão maiores na média e alta renda - a cada ponto percentual de queda da taxa de juros, uma faixa mais ampla de renda se encaixa para a obtenção de financiamento imobiliário, afirma.
Para o segmento pessoa jurídica, a Caixa reduziu os juros em 1 ponto percentual em todas as faixas de relacionamento. As taxas para micro e pequenas empresas (MPE) caíram de 14% para 13%. Para as médias e grandes empresas, os juros serão reduzidos de 13,5% para 12,5%. O banco implantou ainda um sistema de taxas segregadas por "rating" no segmento corporativo. Com a medida, a redução de juros, de acordo com o relacionamento com a Caixa, pode chegar a até 1,5 ponto percentual.
Outras medidas incluem a elevação do prazo de financiamento pessoa jurídica para até 36 meses, concessão de carência pós-obra de 12 meses, utilização da tabela Price nos contratos de produção e possibilidade de acréscimo de 25% sobre a obra a executar.
Procurados, Banco do Brasil e Itaú Unibanco afirmaram que observam o movimento do concorrente, mas sem indicar que vão seguir a Caixa. O Santander disse que reduziu taxas em outubro. O Bradesco não se pronunciou sobre o tema.