Em um período marcado pela alta da inadimplência e pela desaceleração da ampliação
da concessão de crédito, a Caixa Econômica Federal registrou uma queda de 67% no lucro líquido do terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2015, para R$ 998 milhões.
Embora seja o único grande banco que ainda prevê crescimento na carteira de crédito no ano, a Caixa teve de rever projeções. Agora, espera alta inferior à projetada no fim do trimestre passado, quando o presidente da instituição, Gilberto Occhi, anunciou que teria algumas dezenas de bilhões para emprestar até o fim do ano.
Além de a demanda esperada não ter se concretizado, o banco ficou mais conservador nas concessões. O crédito cresceu 5% nos últimos 12 meses, longe da expectativa inicial de expansão de dois dígitos.
Ontem, o vice-presidente de Finanças, Oswaldo Cavalcante, informou que a nova previsão é de um crescimento máximo de 7% em 2016. A expansão está focada em crédito imobiliário e de infraestrutura, com prazo de vencimento mais longo (de dez anos, em média).
Na infraestrutura, a Caixa teve de fazer provisões adicionais referentes a uma empresa do setor de óleo e gás, que, sozinha, afetou a inadimplência – que agora está em 3,58%, ante 3,2% em junho. A expectativa é que o índice de atraso acima de 90 dias recue no último trimestre, quando o impacto relacionado a este cliente já terá passado.
Por enquanto, a Caixa não vê chances de reduzir taxas de juros aos clientes – apesar da demanda fraca, da queda da Selic e da possível redução na inadimplência. Cavalcante diz que ainda será preciso analisar principalmente o índice de atrasos. Por enquanto, diz ele, juros mais baixos são viáveis somente no crédito imobiliário.
Dinheiro novo - Caso a estratégia do banco mude e a instituição volte a ser um indutor de crescimento da economia, incentivando o crédito, a Caixa terá de adequar seu capital.
Há cerca de um mês, o presidente Occhi informou que o banco venderá ativos para se capitalizar. Ontem, o vice-presidente de riscos, Fábio Soares, disse que a capitalização não será necessária em 2016 e 2017. Por isso, ressaltou que a empresa terá tranquilidade para vender os ativos.
A desaceleração do crédito ajudou a Caixa a adiar essa necessidade de captar dinheiro novo, de acordo com Soares. O executivo mencionou que o banco passará a ser favorecido pela política de repasses acertada com o Tesouro Nacional.
Embora Soares não tenha feito referência direta ao tema, a Caixa sofreu no passado com atrasos em repasses do Tesouro referentes a despesas a programas sociais. Para o executivo, esses dois componentes influenciaram positivamente a necessidade de capital do banco neste ano. “Olhando para 2017, vemos a mesma coisa, mantemos a mesma política”, disse.
Embora o banco não tenha dado uma estimativa para o crescimento da carteira de crédito em 2017, a Caixa não espera grande aceleração frente a este ano.“Mesmo que quiséssemos um crescimento expressivo, o cenário econômico é um grande limitador”, explicou Soares.
No terceiro trimestre, o lucro da Caixa somou R$ 998 milhões – no mesmo período de 2015, o ganho superou R$ 3 bilhões. A explicação para a diferença acentuada é tributária, segundo a instituição: no ano passado, a alta da alíquota de CSLL gerou créditos para o banco.