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10/11/2016

Bracher sucederá Setubal no Itaú e fala em continuidade  

Prestes a completar 58 anos, Bracher terá quatro anos no comando do banco, que prevê 62 anos como idade limite para o cargo de presidente.

O Itaú Unibanco anunciou ontem o fim da gestão de 23 anos de Roberto Setubal à frente da maior instituição financeira privada do país. A partir de abril do ano que vem, o banco passará a ser comandado por Candido Bracher, egresso do Itaú BBA, unidade de atacado e de investimentos da instituição financeira. Setubal vai assumir a co-presidência do conselho de administração do banco junto com Pedro Moreira Salles, atual presidente do colegiado.

Ao ser anunciado para o cargo, a primeira mensagem de Bracher foi de que poucas mudanças virão. "O trabalho será essencialmente de continuidade", disse, em entrevista coletiva na tarde de ontem na sede da instituição. Prestes a completar 58 anos, Bracher terá quatro anos no comando do banco, que prevê 62 anos como idade limite para o cargo de presidente.

O banco descartou aumentar esse teto. "É importante manter a idade para abrir espaços e dar oportunidades no banco", disse o presidente do conselho de administração do Itaú, Pedro Moreira Salles. Ainda ontem, executivo familiarizados com o banco avaliavam que Márcio Schettini, com 52 anos e um dos dois executivos preteridos no processo sucessório, continua sendo um candidato ao cargo daqui a quatro anos.

Um dos desafios de Bracher à frente do banco será manter o forte ritmo de expansão da gestão Setubal. No período, o Itaú apresentou um crescimento anual de 20% ao ano, turbinado por uma série de aquisições, incluindo a do Unibanco, em 2008, que colocou o Itaú na liderança entre os bancos privados brasileiros, desbancando o Bradesco. O Itaú encerrou o terceiro trimestre com R$ 1,4 trilhão em ativos. Bracher sinalizou que a estratégia de crescimento por aquisições será mantida.

A troca de comando da instituição financeira era amplamente esperada, uma vez que Setubal completou em outubro 62 anos. O processo que levou à escolha de Bracher começou em 2013, quando o banco anunciou o aumento da idade limite para o cargo de presidente da holding Itaú Unibanco e reformulou a organização da diretoria do banco.

Segundo Roberto Setubal, também presente à coletiva, Bracher era o "candidato natural" a sucedê-lo e foi escolhido por consenso.

Bracher, que fez toda a carreira em banco de atacado e investimento, assumirá o Itaú em um momento de grande transformação no varejo bancário, com migração dos clientes para canais de atendimento digital e fechamento de agências. Setubal afirmou que qualquer executivo que fosse escolhido para sucedê-lo teria algum tipo de "lacuna" em relação aos negócios do banco. "Teremos um período de transição de seis meses, quando Candido vai ter oportunidade de vivenciar o dia a dia comigo", afirmou.

Nos nove primeiros meses do ano, o Itaú lucrou R$ 16,3 bilhões, queda de quase 10% em relação ao mesmo período de 2015. Parte da redução no resultado veio do aumento das despesas de provisão contra calotes no crédito concedido a grandes empresas, área sob o comando de Bracher. "Esses últimos dois anos foram especialmente difíceis, com uma das crises mais graves que já vivi do ponto de vista de crédito", disse.

Bracher não era o único candidato a assumir o posto do Setubal. Também eram cotados para o cargo Marco Bonomi, até agora diretor geral de varejo do banco, e Schettini, da diretoria geral de operações e tecnologia. Com a escolha de Bracher, houve mudança também nas posições dos dois: Schettini passa para a diretoria geral de varejo e Bonomi deixa as funções executivas do banco e passa para o conselho de administração.

Outras alterações também foram anunciadas. Para o lugar de Bracher no atacado, foi escolhido Eduardo Vassimon, vice-presidente executivo responsável pela área de finanças e riscos, que já foi do BBA, antes mesmo de a instituição ser comprada pelo Itaú. Caio David, responsável pela Tesouraria do Itaú, uma das áreas de grande destaque nos resultados mais recentes, assume o lugar de Vassimon.

André Sapoznik, que atuava em uma série de negócios relacionados ao varejo, incluindo o segmento de alta renda (Personnalité) e canais digitais, foi promovido para vice-presidente e conduzirá as áreas de tecnologia e operações. O quadro dos executivos de primeiro escalão inclui ainda Claudia Politanski, que segue como vice-presidente responsável por pessoas, jurídico, comunicação e relações governamentais.

Setubal assumiu o comando do Itaú aos 40 anos, em 1994, em substituição a Carlos da Câmara Pestana, e liderou o banco por mais de 22 anos. No período, o feito mais notável foi ter levado o Itaú à liderança entre os bancos privados, ultrapassando o Bradesco, a partir da gigantesca fusão com o Unibanco, em 2008.

Quando assumiu o posto, havia passado quatro anos como diretor-geral e estava na instituição desde 1981. O Itaú tinha um patrimônio de apenas US$ 2 bilhões e Setubal, que chegava ao topo junto com a URV e o Plano Real, fazia planos de triplicar a base de empréstimos do banco num ambiente de baixa inflação.

Graduado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em engenharia pela Stanford University, Setubal foi estagiário da Metal Leve e assessor no Citibank, nos Estados Unidos, banco com o qual fecharia muitos negócios pelo Itaú, como a criação da Credicard e, mais recentemente, a compra das operações de varejo do banco americano no país.

O banco que Setubal entregará a Bracher tem um patrimônio de R$ 115 bilhões e uma carteira de crédito de quase R$ 570 bilhões, segundo o balanço do terceiro trimestre divulgado no dia 31.
No início deste ano, em conversa com o Valor, o banqueiro comentou com tranquilidade sobre a perspectiva da aposentadoria, diante de seu último ano como principal executivo do Itaú: "Pessoalmente, minha vida está bem organizada, estou feliz com as coisas que faço." Setubal é fã de futebol, torcedor fanático do Santos, tem como hobbies a leitura e a música e está em seu terceiro casamento, com a empresária Vera Maria Zugaib.

Até 2013, quando perguntavam a Setubal sobre sua aposentadoria, costumava responder que sairia logo depois da presidente Dilma Rousseff. Ele completaria 60 anos em 2014 e teria que deixar o comando em maio de 2015, logo depois de encerrado o primeiro mandato da presidente. Mas em 2013 ele adiou sua aposentadoria para os 62 anos e, em 2014, Dilma foi reeleita para mais quatro anos, embaralhando as datas. Pelo novo quadro, Dilma é quem sairia depois. Como se sabe agora, sem querer Setubal acertou a projeção.  

FONTE: VALOR ECONôMICO