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30/12/2019

Bolsa e fundo imobiliário seguem entre as recomendações para 2020

Recuperação da atividade e trégua no exterior sustentam apostas em ativo de risco

O ano de 2019 premiou quem investiu na bolsa e em fundos imobiliários, mas também trouxe um bom resultado para as carteiras de renda fixa que deve deixar saudades. Com a mudança de calendário não dá para esperar os mesmos retornos para as alternativas ligadas a juros porque a percepção é que todo o ajuste da política monetária já foi incorporado aos preços dos ativos.

Para 2020, a expectativa dos especialistas da área de investimentos de bancos e gestoras de patrimônio é que os melhores desempenhos venham novamente de ações, fundos imobiliários e, para quem puder abrir mão de liquidez, da classe de ativos alternativos - fundos de crédito, infraestrutura e de participação em empresas.

A um pregão do encerramento do ano, são as ações do setor imobiliário e de empresas de menor capitalização de mercado na B3 que lideram o ranking de aplicações no ano, com altas de 70,35% para o Imob e de 58,59% para o índice de small caps até o dia 27. O Ibovespa, principal referência da bolsa brasileira, acumula alta de 32,59%, após um rali (+7,67%) em dezembro que levou o indicador para os 116 mil pontos. O índice de fundos imobiliários, aplicação que combina a distribuição de dividendos com a possibilidade de ganho com a variação das cotas em bolsa, sobe 34,77%.

Na renda fixa, o destaque fica por conta do IMA-B 5+, índice da Anbima que representa uma cesta de títulos públicos atrelados à inflação com prazo a partir de cinco anos, com ganhos de 29,15% no ano até 27. O IRF-M, índice dos títulos prefixados, tem valorização nada desprezível de 11,85%. Com o CDI médio fechando em 5,96% no ano, não dá para reclamar.

A percepção de que os prêmios na renda fixa se esgotaram se reflete bem na distribuição de alocação recomendada para iniciar 2020 pelo estrategista do UBS Wealth Management, Ronaldo Patah. A instituição indica exposição “overweight” (acima da média de mercado) para a bolsa e para os fundos imobiliários, está “strong underweight” (posição fortemente abaixo da média) em títulos pós-fixados, e “underweight” em papéis prefixados. Há ainda indicação “neutra” (com posições estruturais apenas, em linha com o mercado) para papéis indexados à inflação, multimercados e ativos internacionais.

O cenário que serve como base para essas recomendações é o menor risco de recessão global com a trégua comercial entre Estados Unidos e China, além da vitória dos conservadores no Reino Unido, que sugere uma saída amigável do país da União Europeia. Com esses dois fatores perdendo força, o único ponto de atenção fica para a eleição americana. Assim, diz Patah, num ambiente externo aparentemente controlado deve haver maior disposição do investidor global para a tomada de risco, o que pode significar fluxo de capital externo para o Brasil.

“Com a volta do estrangeiro e a melhora do apetite a risco, há um potencial bom para as bolsas de mercados emergentes como um todo em 2020”, afirma o executivo. “E, dentro dos emergentes, o Brasil aparece bem na foto, com aceleração do crescimento, reformas em andamento e um baixo risco político até meados de 2022 pelo menos.”

Se nos últimos anos o PIB brasileiro rodou com expansão de apenas 1%, para 2020 e 2021 o UBS prevê um ritmo melhor, de 2,5%. E, num cenário de taxas de juros nas mínimas históricas e inflação abaixo da meta, a probabilidade é de, no curto prazo, não haver nenhuma alta da Selic, hoje em 4,5% ao ano. “É um ambiente fértil para o crescimento do lucro das empresas”, afirma Patah.

A convicção de retomada da atividade se casa com a ainda alta exposição do investidor brasileiro a ativos de renda fixa. Só na indústria de fundos, que reunia R$ 5,4 trilhões ao fim de novembro, 41,1% do patrimônio estava nessa classe. “Os investidores vão ter que aumentar a alocação em ativos de risco como um todo, dos dois lados há o incentivo para investir em bolsa e em fundos imobiliários”, reforça Patah.

O Brasil está entre os mercados preferidos do private banking do Citi na América Latina, com a expectativa de crescimento de lucro por ação das empresas da ordem de 15%, após um 2019 praticamente estagnado, com incremento estimado de 3,75%.

Para Dan Kawa, sócio da Tag Investimentos, a despeito da valorização acentuada para as ações neste ano, há espaço para ganhos adicionais num cenário que prevê que os juros seguirão baixos por mais tempo. “As receitas e os lucros das empresas vêm aumentando, há um crescimento sustentável do setor corporativo que segue pouco alavancado”, afirma. “Há uma série de vetores no Brasil para continuar [valorizando as ações], mas vale fazer o alerta de que no Brasil os movimentos não são lineares, são permeados por volatilidade e incertezas.” 

Com o rali na bolsa, alguns setores foram mais impactados que outros, então para 2020 é necessário ser mais seletivo para escolher aquelas ações que ficaram para trás, alerta Alcindo Canto, diretor de wealth management do Banco BV. “Os setores de infraestrutura e logística, mais ligados à economia real, andaram menos, podem ter um prêmio importante relacionado ao crescimento do PIB mesmo”, diz. Outro segmento que a instituição acompanha de perto é o agrícola que deu suporte à economia neste ano e pode passar por movimentos de liquidez ou por ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês).

Canto acrescenta que vale olhar para fundos de valor e de crescimento, bem como aquelas estratégias de arbitragem setorial, a fim de capturar ganhos de valor relativo, fora do direcional de mercado. O executivo ainda sugere avaliar oportunidades em fundos imobiliários por haver muitas alternativas de geração de renda listadas em bolsa, com fácil acesso e liquidez.

Sob a leitura de que o juro baixo perdure no Brasil, Dennis Kac, sócio da Brainvest, diz que não há alternativa a não ser correr para outros riscos se quiser capturar algum ganho extra. “O investidor vai precisar alocar mais em renda variável, olhar para investimentos alternativos, abrir mão de liquidez para que a sua expectativa de retorno supere a das classes tradicionais”, diz.

FONTE: VALOR ECONôMICO