Felipe Marques e Talita Moreira
O Banco do Brasil (BB) surpreendeu negativamente o mercado ontem, com um lucro líquido muito abaixo do previsto. A instituição sentiu o peso de uma provisão bilionária feita para uma empresa específica do setor de óleo e gás - apesar de o banco não ter divulgado o nome, analistas apostam tratar-se da operadora de sondas Sete Brasil.
Com isso, o lucro líquido ajustado foi de R$ 1,286 bilhão no primeiro trimestre, uma queda de 57,5% em relação ao mesmo período do ano passado e de 51,4% na comparação com o quarto trimestre de 2015. As projeções de analistas colhidas pelo Valor apontavam um resultado de R$ 2,437 bilhões. Os investidores reagiram mal aos números. As ações do BB fecharam em queda de 2,83% na bolsa, enquanto o Ibovespa subiu 0,90%.
O lucro contábil ficou em R$ 2,359 bilhões, com queda de 59,5% na comparação anual. O retorno anualizado sobre patrimônio encolheu, de 12% no quarto trimestre para 5,6% nos três primeiros meses do ano - o menor entre os grandes bancos de varejo do país.
As despesas de provisão para devedores duvidosos, líquida de recuperações, foram o grande destaque negativo do trimestre, com aumento de 59,2% na comparação anual e de 36,6% ante o quarto trimestre, a R$ 8,67 bilhões. De acordo com o banco, R$ 2,02 bilhões em reservas foram feitas para fazer frente à deterioração do risco de um grande cliente específico. Sem esse caso, o lucro líquido do banco teria sido de R$ 2,3 bilhões, afirmou José Maurício Pereira Coelho, vice-presidente de relações com investidores do BB.
O baque em provisões levou o banco público a revisar algumas das projeções feitas para 2016, incluindo a rentabilidade. A nova estimativa do BB é alcançar retorno sobre o patrimônio líquido ajustado de 9% a 12% neste ano, e não mais de 11% a 14%, como previa anteriormente. Já as provisões para créditos de liquidação duvidosa devem representar entre 4% e 4,4% da carteira de crédito. A projeção anterior era de 3,7% a 4,1%. No primeiro trimestre, o indicador estava em 3,9%, o que sugere piora adicional ao longo do ano.
Para Coelho, neste ano não deve haver outro caso de grande empresa em dificuldades que traga a mesma magnitude de impactos. "O que vemos é aumentar o volume de casos de renegociações com grandes empresas, mas vemos elas sendo feitas com muitas alternativas que não trazem tanto prejuízo para o banco", disse a jornalistas.
Além dos problemas trazidos pelo caso específico, houve deterioração da qualidade de crédito do banco de uma forma geral. A inadimplência subiu para 2,6% em março, ante 2,24% no fim de 2015 e 1,84% um anos antes, puxada pelas empresas. Nesse segmento, o índice piorou 0,6 ponto no trimestre. Para Walter Malieni, vice-presidente de gestão de riscos, o forte crescimento de pedidos de recuperação judicial e falências no período explica a alta.
A carteira de crédito ampliada do BB totalizava R$ 775,603 bilhões no fim do primeiro trimestre, recuo de 2,6% em relação a dezembro. Em 12 meses, houve aumento de 2,3%. A margem financeira bruta do banco, um dos pontos elogiados pelos analistas, cresceu 13,7% na comparação anual, para R$ 14,8 bilhões.
O índice de cobertura do BB, que mede a relação entre o saldo de provisões e o estoque de operações vencidas há mais de 90 dias, caiu de 209,2% em dezembro para 193,8% em março. "Embora a margem bruta possa ajudar no curto prazo, estamos preocupados com a proteção limitada que o banco agora parece ter naqueles que devem ser os 18 meses mais difíceis do ciclo", afirmam, em relatório, os analistas do Goldman Sachs. Além do aumento da inadimplência, a queda no índice de cobertura é explicada pelo fato de o banco ter transformado R$ 2 bilhões de seu colchão de provisões adicionais para provisões requeridas.