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19/09/2017

Bancos preferem esperar confiança crescer

Pesquisa da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) em agosto aponta uma projeção de crescimento nominal de 1,4% na carteira total das instituições financeiras em 2017 na comparação anual.

Sérgio Tauhata 

Apesar dos sinais que apontam para uma eventual retomada do consumo, as instituições financeiras permanecem reticentes em pisar no acelerador dos financiamentos em meio ao ambiente político nebuloso. "Os bancos têm se comportado, sob o ponto de vista de gestão de risco, da mesma maneira que no passado, ou seja, ainda cautelosos, mesmo com queda da inadimplência, limpeza das carteiras e diminuição das provisões para créditos de liquidação duvidosa (PDD)", afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). 

Os maiores provedores de crédito do país, porém, já revelam interesse em expandir a oferta. "O banco está com apetite para voltar a crescer [no crédito], tem a liquidez e a base de capital para isso, mas depende muito mais do grau de confiança do consumidor", diz Marcelo Kopel, diretor de Relações com Investidores do Itaú Unibanco. 

Já o Santander começa a se posicionar de "modo muito contundente" em termos de ofertas de crédito sob expectativa de recuperação da economia, especialmente no segmento imobiliário, conforme atestou o presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, durante entrevista coletiva no início do mês. 

O Banco do Brasil "já percebe um aquecimento da procura do crédito em geral" e o banco trabalha com "uma perspectiva boa de retomada", afirma Edson Cardozo, diretor de Empréstimos, Financiamentos e Crédito Imobiliário do BB. A instituição tem apresentado "um ligeiro crescimento" do financiamento a veículos e uma continuidade de expansão forte do consignado. 

O Bradesco também monitora a possível volta do consumo. O economista-chefe do Bradesco, Francisco Honorato Barbosa, afirmou, durante debate do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), realizado no Valor no começo do mês, que "o crédito a pessoa física começou a crescer, mas na jurídica, ainda não". 

Pesquisa da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) em agosto aponta uma projeção de crescimento nominal de 1,4% na carteira total das instituições financeiras em 2017 na comparação anual. Para ocorrer o resultado positivo, uma expansão do saldo das pessoas físicas, de 3,4% para financiamentos com recursos livres, terá de compensar a queda dos empréstimos das empresas, que, segundo o levantamento da Febraban, vão recuar 1,3% no mesmo segmento. 

O sentimento do consumidor, entretanto, tem oscilado ao sabor do noticiário. O índice de confiança da FGV-Ibre (ICC) atingiu a mínima histórica em setembro de 2015 e permaneceu em um nível baixo até metade de 2016. A partir do segundo semestre do ano passado passou a se recuperar gradativamente, conforme a economia mostrava os primeiros sinais de retomada. Mas desde a delação da JBS, em maio, o indicador registra três meses consecutivos de queda. "As pessoas sentiram o impacto da incerteza política após a delação da JBS", afirma a economista Viviane Seda, coordenadora da Sondagem do Consumidor da FGV-Ibre. 

Na leitura de agosto, o ICC teve perda de 1,1 ponto percentual, para 80,9 pontos. Após a terceira queda consecutiva, o índice voltou ao nível do início do ano, acima dos 79,3 pontos de janeiro. Segundo Kopel, do Itaú Unibanco, as denúncias do grupo frigorífico "deram uma pausa na retomada [do crédito]". O executivo acredita, porém, na aceleração gradual das operações "com o tempo", conforme as incertezas se diluam e as notícias econômicas positivas prevaleçam.

FONTE: VALOR ECONôMICO