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11/07/2016

Bancos elevam exigências para isenção de tarifas

As isenções oferecidas tendem a diminuir e ficar restritas a clientes afluentes ou aos que têm folha de pagamento no banco.

Há uma longa lista de explicações dos bancos para a aceleração do reajuste de tarifas bancárias nos últimos 12 meses. Mais do que compensar os avanços da inflação, a explicação passa pelo esforço dos bancos em preservar margens, em um cenário de receitas de crédito mais escassas e inadimplência em alta. O menor grau de competição bancária também abriu espaço para reajustes maiores.

Não foram só os preços das tarifas que subiram. Os bancos, de uma forma geral, também elevaram o volume mínimo de investimentos necessário para que os clientes sejam isentos de tarifas. Em julho do ano passado, o Itaú, por exemplo, elevou de R$ 100 mil para R$ 150 mil o piso de aplicações exigidas para isentar totalmente os clientes Personnalité de cobranças. Bradesco, Santander e Banco do Brasil também subiram a régua para as isenções concedidas aos clientes de maior renda. As isenções oferecidas tendem a diminuir e ficar restritas a clientes afluentes ou aos que têm folha de pagamento no banco.
 
Nem toda a base de clientes dos bancos, porém, foi atingida pelas tarifas maiores. É o que mostra Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do BB. Nas contas do executivo, entre junho de 2013 e maio de 2016 o pacote I do banco (o mais básico) foi reajustado em 10,6% - ante variação de 26,14% do IPCA no mesmo período. Já os outros três pacotes padronizados tiveram reajustes na casa dos 40%, acima, portanto, do índice de preços. A questão é que, dos 6,5 milhões de clientes que o banco tem nesses quatro pacotes, 4,7 milhões estão no pacote I. "Esse é um pacote com grande concentração de clientes novos", afirma.

"A tarifa é uma fonte de receita importante em qualquer banco, ms não necessariamente a mais relevante. Além dos pacotes, nossas receitas de serviços englobam taxas de fundos de investimentos e mesmo a cobrança de tarifas avulsas", diz Casalatina.

Outro ponto levantado pelos bancos é que a escalada de suas despesas operacionais ao longo dos últimos anos superou a inflação. "Em especial de 2013 para cá, a variabilidade dos custos da operação bancária foi mais alta", diz Antonio Diniz, diretor de comercialização de produtos e serviços do Bradesco. Ele cita, como exemplo, os aumentos de preços de energia no ano passado e os dissídios acima da inflação concedidos aos bancários.

"Houve anos em que não subimos tarifas apesar da inflação", afirma Diniz. "Somos um banco de inclusão. Tentamos reter o máximo possível esses aumentos."

A Caixa Econômica Federal afirmou que os reajustes superiores aos da inflação neste ano tiveram "por principal motivação corrigir a defasagem dos preços de serviços que não sofreram atualização de tarifas desde 2011", via nota enviada pela assessoria de imprensa do banco. "Os reajustes, quando necessários, são baseados em pesquisas de mercado e na necessidade de manutenção do equilíbrio econômico do produto em relação aos custos dos serviços oferecidos, e de também permitirem a continuidade da melhoria dos produtos e serviços da Caixa e a expansão de nossos canais de atendimento."

Um executivo de uma grande instituição, que acompanha de perto as variações de tarifas bancárias, afirma que os reajustes mais acentuados tiveram início após a elevação da alíquota de Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) cobrada dos bancos, em setembro do ano passado.

Não custa lembrar que, nas tarifas pessoas físicas, há uma série de regras do Banco Central a respeito dos aumentos de tarifas. Os bancos, por exemplo, têm de esperar 180 dias para reajustar uma tarifa depois de aumentá-la.

No Santander, a política de reajuste de tarifas tenta situar os percentuais próximos da inflação, afirma José Roberto Machado, diretor-executivo de pessoa física. Segundo ele, a estratégia do banco é oferecer produtos de valor similar ao dos pacotes padronizados, mas que tragam alguma outra vantagem ao cliente, em especial a conversão do valor pago em tarifa para bônus de celular. "Eu preciso cobrar do cliente pelo serviço que ofereço, mas para que não pese no orçamento, eu reverto o valor para pontos no celular, por exemplo."

Segundo ele, o banco fez reajustes entre 7% a 8% nos pacotes de tarifas dos clientes Van Gogh do banco e de 6% em um dos pacotes dos clientes Select - os dois segmentos de maior renda da instituição. No Van Gogh, o banco também elevou para R$ 80 mil o mínimo investido para isenção. "Nesses segmentos, tentamos ser um pouco mais agressivos que a concorrência."

Procurado, o Itaú Unibanco disse que não comentaria o assunto.

Tarifas mais altas, porém, não necessariamente se traduzem em um crescimento acelerado das receitas de serviços dos bancos. Em relatório recente, a agência de classificação Fitch chamou atenção para a recente queda da participação das rendas com serviços e tarifas na composição das receitas de Itaú e Bradesco. "Nos grandes bancos privados, a Fitch observou uma desaceleração nas receitas com tarifas", escreveu.

FONTE: VALOR ECONôMICO