O Banco Máxima dá os primeiros sinais de virada após um longo processo de capitalização que culminou na troca de controle, da maior parte da diretoria e de mais da metade dos 213 funcionários. A instituição deve fechar o ano enquadrada nos requisitos mínimos regulatórios de capital e ainda apresentar um lucro, situação distinta da verificada três anos atrás, em um dos piores momentos da instituição financeira.
Responsável pelo novo projeto, o executivo mineiro do setor imobiliário Daniel Vorcaro assumiu o controle das mãos de Saul Sabbá efetivamente em 12 de outubro, conforme autorização do Banco Central, mas já vinha atuando para sanar os problemas. Entraram no controle ainda Armando Miguel Gallo Neto, Felipe Wallace Simonsen e Augusto Ferreira Lima.
Foram aportados R$ 200 milhões no banco e emitidos R$ 50 milhões em dívidas desde maio de 2017, quando o acordo de acionistas foi assinado. Àquela época, havia um grave problema de capital. O índice de Basileia - que mede a capacidade de um banco emprestar em relação ao patrimônio - era de 0,5%, enquanto o patamar mínimo regulatório é de 10,5%.
Neste ano, no entanto, o Máxima deve fechar com patrimônio líquido de R$ 250 milhões, ante R$ 30 milhões anteriormente, e um índice de Basileia entre 11% e 12%. A meta para os próximos 12 a 18 meses é dobrar o capital e, em cinco anos, alcançar R$ 1 bilhão de patrimônio líquido.
“Existe um plano de crescimento gradativo, para colocar a instituição financeira em outro patamar”, disse Vorcaro ao Valor, em sua primeira entrevista após assumir o controle.
Nesse sentido, o Máxima estuda fazer uma emissão externa, de US$ 100 milhões, já no início de 2020. E, se necessário, o executivo está disposto a colocar mais dinheiro no negócio.
Nos bastidores, desde janeiro de 2018, o comando do banco tem sido trocado. Luiz Bull, com passagem pelo Safra, foi nomeado diretor estatutário e responsável pela área operacional, enquanto Angelo Silva, ex-Safra e Banif, está na diretoria de controladoria. Marcelo Gonçalves ficará na corretora de câmbio. Serão anunciados diretores para as áreas de crédito, produtos e comercial.
O objetivo é continuar a ter uma estrutura enxuta, sem agências físicas, e usar tecnologia e parcerias para ampliar o portfólio e atingir mais clientes. Historicamente, o Máxima se manteve focado em crédito imobiliário, principalmente a carteira de “home equity” - financiamento que tem imóvel como garantia -, que atingiu R$ 500 milhões neste ano.
“Acredito muito no crédito imobiliário, uma linha de longo prazo e que tem uma boa taxa”, diz Vorcaro. “Só que há um grande entrave ainda no Brasil que é a burocracia da constituição da garantia.” Esse entrave, segundo o executivo, impede a oferta em larga escala, o que está sendo atacado pelo governo.
Enquanto isso, o Máxima está oferecendo crédito pessoal, microcrédito e consignado (público e privado), com distribuição em parcerias e sem expor a marca - que, inclusive, deve mudar em 2020. Nessa carteira, desde o início de 2018, o banco emprestou R$ 1 bilhão por meio de sete parcerias, fazendo inclusive a cessão de algumas dessas carteiras ao mercado. “O banco estava muito presente no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas essas parcerias possibilitam ir para o Norte e Nordeste, onde há pessoas desatendidas em termos de crédito.”
Em função desses novos produtos, o faturamento do banco aumentou quatro vezes de 2018 para 2019, com previsão de fechar em R$ 600 milhões. A base de clientes, por sua vez, passou de 1 mil quando o grupo entrou na operação, focados em crédito imobiliário, para 500 mil. Com uma nova plataforma lançada em janeiro - a BBNK, que permite a qualquer empresa do país se “tornar” banco -, serão adicionados mais 2 milhões de clientes em 2020.
Outra área que o Máxima está atuando é na operação estruturada para empresas do middle market, consideradas aquelas com faturamento anual até R$ 150 milhões - grandes empresas, segundo Vorcaro, são bem atendidas por grandes bancos. Embora a carteira de crédito seja de apenas R$ 200 milhões nessa modalidade, os ganhos acabam sendo com serviços, sendo que áreas como câmbio, corretagem e assessoria financeira foram reativadas na instituição.
Cerca de 70% dos clientes de middle market são do setor de construção, “que mais sofreu na crise e no qual há mais oportunidades”, segundo Vorcaro. O próprio Máxima sentiu esse movimento, uma vez que teve de tomar como garantia imóveis de construtoras - Vorcaro percebeu que muitos imóveis tinham valor superior ao da dívida, um dos atrativos do negócio e, até agora, reduziu o estoque desses ativos imobilizados em 50%, o que permitiu ampliar a carteira de crédito.
Quando Vorcaro assumiu o banco, havia um prejuízo operacional recorrente de 15% do faturamento. Neste ano, a previsão é de que feche com lucro de R$ 30 milhões. “Conseguimos superar os pontos principais que poderiam travar as perspectivas do banco. A preocupação agora é a atuação no mercado, para conseguirmos crescer.”