Por Sandra Manfrini (Broadcast), Circe Bonatelli (Broadcast) e Francisco Carlos de Assis (Broadcast).
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto porcentual, para 14,75% ao ano, nesta quarta-feira, 7, “impõe um fardo ainda mais pesado à economia”, na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade destaca as consequências negativas da alta dos juros para o emprego, a renda e o bem-estar da população.
“Embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A indústria prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,3% neste ano, o que representaria uma queda de 1,1 ponto porcentual na comparação com 2024. A previsão é de que o setor industrial também perca ritmo, com expansão de 2% ante 3,3% do ano passado.
“Caso a estimativa se concretize, isso representaria o menor crescimento da economia nos últimos cinco anos e está diretamente relacionado à política monetária contracionista”, completa Alban.
Para a entidade, pelo menos quatro fatores deveriam ser considerados para evitar uma nova alta da taxa Selic. O primeiro, a defasagem dos efeitos da política monetária contracionista. “A materialização da alta de juros deve ser observada na totalidade a partir do segundo semestre de 2025, o que torna um novo aumento da Selic um ato precipitado, agravando a desaceleração da economia desnecessariamente”, diz a nota da CNI.
O segundo ponto, destaca, é que, com a Selic a 14,25% — patamar anterior ao aumento de hoje —, a taxa de juros real seria suficiente para controlar a inflação. “A CNI reitera que o parâmetro já superava em 3,8 pontos porcentuais a taxa de juros neutra, estimada em 5% ao ano pelo Banco Central.”
Outro ponto lembrado pela CNI é a recente política comercial dos Estados Unidos. “A imposição de novas tarifas de importação aumentou o risco de recessão nos EUA e enfraqueceu o dólar no mercado internacional. Somado à grande diferença de taxa de juros praticada no Brasil, o fato contribuiu para a valorização do real, que atingiu 8,2% entre dezembro de 2024 e abril de 2025, e reduz a pressão da taxa de câmbio sobre a inflação.”
A entidade ressalta ainda a forte desaceleração do impulso fiscal, que contribui para a moderação do consumo e favorece o controle da inflação.
Setor imobiliário: ‘É fundamental que ciclo de alta na selic tenha fim o quanto antes’, diz Abrainc
A elevação da Selic também foi criticada pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Segundo a entidade empresarial, a medida terá impacto no mercado imobiliário.
“É fundamental que o ciclo de altas na Selic tenha um fim o quanto antes, para não comprometer o crescimento econômico e a geração de empregos”, afirmou a associação, em nota. “Juros elevados restringem o acesso ao crédito, inibem investimentos produtivos e ampliam o custo da dívida para empresas e famílias”.
A associação empresarial disse ainda entender que a elevação da Selic pelo BC é uma forma de combater a inflação, mas ponderou que o Brasil já tem o quarto maior juro real do mundo e apontou uma nova alta aumentará ainda mais os desafios da economia brasileira.
Como a Selic é uma das variáveis consideradas pelos bancos para a concessão de financiamento da casa própria, a medida deverá impactar o crédito. “Ao tornar o crédito imobiliário mais caro, (esse nível de Selic) também compromete o acesso à moradia para milhares de famílias brasileiras”, ressalta.
A Abrainc afirma ainda que defende um controle efetivo dos gastos públicos como caminho para possibilitar a redução sustentável dos juros no médio e longo prazo. “Somente com responsabilidade fiscal será possível destravar investimentos perenes, estimular a atividade produtiva e criar um ambiente favorável ao crescimento econômico sustentável”.
No acumulado dos últimos 12 meses até janeiro, os lançamentos de imóveis no segmento de médio e alto padrão (com financiamento associado à Selic) subiram 5,5%, para 25.892 unidades no País, enquanto as vendas caíram 3,2%, para 41.568 unidades, de acordo com levantamento realizado pela Abrainc em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Comércio: Aumento de 0,5 ponto da Selic foi uma decisão necessária, diz Federação do Comércio de SP
A federação que representa os comerciantes varejistas do Estado de São Paulo, a FecomercioSP, disse em nota distribuída nesta quarta-feira, 7, que o aumento de 0,5 ponto porcentual da taxa básica de juro, a Selic, foi uma medida necessária.
“O aumento da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, em 0,5 ponto porcentual anunciado nesta quarta-feira, 7, pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), é necessário. Trata-se, antes de tudo, de uma resposta do órgão à preocupante escalada da inflação mesmo em uma conjuntura de juros já elevados”, diz a federação na nota.
Ainda, diz a nota, “dados recentes, como a escalada de preços dos serviços, não davam outra opção ao comitê. Serviços intensivos em mão de obra registram uma média móvel anual de 6% de alta, enquanto os subjacentes estão em 4,5%. Particularmente sensíveis ao nível de atividade econômica e ao aumento da renda disponível pela população, esses dois segmentos refletem como a demanda continua aquecida no País”.
Para a entidade, isso acontece porque o mercado de trabalho permanece bastante ativo, mesmo com o aumento ligeiro da taxa de desemprego na última medição do IBGE, para 7%, no trimestre encerrado em março.
“A consequência dessa conjuntura é a manutenção do consumo e da demanda por serviços, forçando o Copom a ajustar o descompasso consequente entre oferta e demanda. Ao fazer isso, o órgão ajuda a conter a inflação desse setor e, ainda, a evitar que o poder de compra da população seja afetado pela disparada dos preços. Mas não é só isso: o comitê ainda precisa lidar com o grave problema fiscal brasileiro. Na medida em que o governo não oferece sinais de que fará um ajuste mais austero das contas públicas, as dúvidas que pairam no mercado impedem que os juros caiam de forma mais acelerada e sólida”.
Por outro lado, segue a FecomercioSP, o cenário internacional vive de uma reacomodação com a guerra comercial iniciada por Donald Trump, nos Estados Unidos, ameaçando desacelerar o crescimento mundial de forma expressiva. Além dos movimentos imprevisíveis da Casa Branca, as incertezas sobre as reações da China têm gerado apreensão - e, no que diz respeito ao BC, contribuem para uma intensidade menor na subida dos juros.
“Por tudo isso, a decisão adotada nesta quarta é acertada, ao diminuir o ritmo das elevações da Selic - não mais em 1 ponto porcentual como anteriormente -, mas mantendo o compasso de preocupação com a economia em geral. O Copom ainda atua corretamente ao oferecer credibilidade às suas ações”, diz a nota.