A oferta pública de ações da Caixa Econômica Federal é uma possibilidade, mas não está hoje na lista de prioridades do futuro presidente da instituição, Gilberto Occhi. Os esforços se concentrarão na reestruturação e abertura de capital das áreas de seguridade, cartões e loterias.
"A abertura de capital não está sendo avaliada neste momento, estamos estudando as áreas da empresa", disse ao Valor Gilberto Occhi, que foi ministro das Cidades e da Integração Nacional e vice-presidente de governo da própria Caixa.
O Valor apurou que o novo presidente da Caixa deve assumir hoje, quando o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá confirmá-lo no cargo. Nos próximos dias, ele deverá se reunir com o próprio Meirelles para conhecer os planos do único acionista do banco, o Tesouro.
Pelo menos três fatores pesam a favor de se concentrar nas operações de seguridade, loterias e cartões, deixando para depois uma eventual abertura do capital da Caixa como um todo, caso ela seja de fato feita.
Uma delas é que, num mercado acionário ainda bastante frágil, não haveria apetite dos investidores para investir nas operações de seguridade, cartões e loterias (embora essa última seja um tipo de leilão) e também no capital do banco como um todo.
O segundo motivo é a forte resistência dos funcionários, e a inconveniência de comprar essa briga logo no início do novo governo. A operação não é consenso nem entre os próprios vice-presidentes da Caixa, sobretudo os que são funcionários de carreira. O ex-ministro Guido Mantega deixou pronto, em fins de 2014, um plano para abertura de capital da Caixa, mas a presidente Dilma Rousseff decidiu engavetá-lo por essa razão.
Um terceiro motivo é prático: a abertura do capital poderia reforçar os índices de capitalização do banco e ajudar na redução da dívida pública. Mas não seria considerada receita primária para melhorar o resultado fiscal do governo. Esse foi o motivo que mais pesou na decisão do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy de priorizar as operações nas áreas de seguridade, cartões e loterias, em vez de abrir o capital do banco como um todo.
O projeto feito por Mantega previa a venda de entre 25% e 30% das ações do banco, para permitir que a instituição financeira entrasse no Novo Mercado da Bovespa. Uma parte dessa oferta seria de emissão primária de ações, o que contribuiria para fortalecer o capital do banco federal.
O índice de Basileia da Caixa, atualmente em 13,69%, é suficiente para sustentar a expansão de crédito do banco programada para 2016 e 2017. Dependendo dos planos da nova administração para a Caixa, seria necessário mais capital daí por diante.
O projeto de abertura do capital da Caixa Seguridade já está avançado e só não foi concluído porque, para ter êxito, a arrecadação seria muito baixa no atual ambiente econômico. As avaliações do negócio chegaram a R$ 40 bilhões, mas nas condições atuais de mercado estariam em R$ 15 bilhões ou menos.
O projeto de privatização de parte dos negócios de loteria por meio da Lotex, uma empresa constituída apenas para esse fim, também está adiantado. A ideia é fazer um leilão para vender o direito de explorar loterias instantâneas, com um potencial para levantar cerca de R$ 4 bilhões.
A abertura do setor de cartões ainda deve levar pelo menos um ano. O primeiro passo é internalizar na Caixa o processamento dessas operações, que hoje é feito por uma empresa terceirizada. O projeto tem sido mais complexo que o inicialmente esperado.
O virtual presidente da Caixa disse que a sua lista de prioridades para o comando do banco inclui "perseguir a adimplência", num momento em que a carteira de crédito do sistema bancário como um todo está vulnerável à recessão e ao desemprego.
Occhi, um funcionário com 36 anos de carreira na Caixa e que chega ao comando do banco graças à indicação do PP, disse ainda que no topo das preocupações da nova administração estão avançar na área de tecnologia e resgatar o papel dos empregados do banco nas estratégias da Caixa, ouvindo-os e levando informações a todos eles.