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29/10/2021

3ª fase do Open Banking começa hoje; especialista comenta as mudanças

Para Paulo Silva, CEO da Franq, o maior desafio dos bancos participantes do Open Banking é educar o brasileiro para que ele seja capaz de analisar as ofertas de diferentes bancos e escolher de forma eficiente

Começa nesta sexta-feira, dia 29, a terceira fase do Open Banking, sistema de integração de serviços financeiros criado pelo Banco Central. Nessa fase, o Open Banking "dará as mãos" para o Pix, ferramenta de transferências desenvolvida pelo BC. O Pix poderá ser usado na iniciação de pagamentos fora dos ambientes (aplicativos, internet banking ou site) das instituições financeiras.

Um cliente poderá, por exemplo, pagar por um produto diretamente no e-commerce do varejista, ao invés de ter que abrir o aplicativo do banco para colar o código do Pix ou ler o QR Code. É mais ou menos como já funciona com o pagamento do cartão, em que é só necessário preencher as informações pessoais e confirmar a transação.

Ao longo dos próximos meses, outras ferramentas de transação também serão integradas ao Open Banking como iniciadoras de pagamento. Em fevereiro do ano que vem será a vez das TEDs e das transferências entre contas da mesma instituição; em junho entra em vigor o pagamento de boletos, e por fim, em setembro de 2022, será possível fazer operações de débito em conta sem abrir o aplicativo ou internet banking da instituição financeira.

A decisão de instaurar as mudanças do Open Banking em fases foi tomada a pedido dos bancos, para que houvesse tempo de eles prepararem seus sistemas para a integração com outras instituições. A quarta e última fase será implantada a partir do dia 14 de dezembro de 2021, e possibilitará a integração de seguros e produtos de investimentos no Open Banking.

Paulo Silva, CEO da Franq, plataforma que permite que bancários autônomos ofereçam produtos de diferentes instituições financeiras para seus clientes, mais ou menos no mesmo modelo de agentes autônomos para o mundo de investimentos, o maior desafio do Open Banking é educar o brasileiro para que ele seja capaz de analisar as ofertas de diferentes bancos e escolher de forma eficiente.

"As pessoas já têm dificuldade de entender a oferta de produtos e serviços de um único banco. Conforme mais bancos passarem a enviar ofertas, a decisão não será mais a de querer ou não querer, e sim a de escolher entre diferentes propostas", analisa Silva.

Leia a entrevista abaixo:

Qual o avanço que o Open Banking deve trazer para o mercado?

O maior poder que o consumidor pode ter é o de escolha, porque a competição naturalmente traz a redução de custos e melhores ofertas. O Brasil saiu de uma estrutura financeira totalmente fechada, então o Open Banking é uma verdadeira revolução.

A questão é que eu enxergo dois desafios daqui pra frente: o da velocidade de integração das instituições financeiras, e o tempo de adaptação do consumidor para nova realidade. O brasileiro, que sempre contou com pouquíssimas opções de produtos e serviços financeiros, e que ainda tem um nível menor de educação financeira, vai, de repente, se deparar com mais ofertas.

As pessoas já têm dificuldade de entender a oferta de produtos e serviços de um único banco. Conforme mais bancos passarem a enviar ofertas, a decisão não será mais a de querer ou não querer, e sim a de escolher entre diferentes propostas. A capacidade de saber navegar no sistema e fazer escolhas vai fazer toda a diferença.

Como preparar o cliente para essa nova realidade?

Todo mundo falava da necessidade de tecnologia, da forma de regulamentação e o problema que open banking poderá causar aos bancos, mas ninguém pensava no cliente. O cliente como centro das atrações é um assunto recente.

O desafio de toda a sociedade é educar o consumidor, para que ele consiga navegar nas novas escolhas. Nosso modelo de negócio é baseado nesse conceito: temos uma rede de bancários autônomos que vão ajudar o cliente a analisar as opções, de forma independente, sem conflito de interesse. É mais ou menos como funciona na Inglaterra -- lá, 85% das vendas de crédito imobiliário, por exemplo, são feitas por independent brokers. Quando a oferta é excessiva, a tendência é que o consumidor precise de ajuda.

O modelo de AAI (Agentes Autônomos de Investimento) foi mais ou menos isso. Quando as plataformas de investimento ganharam a arquietura aberta, o núemro de AAIs explodiu, porque os clientes precisavam de ajuda para entender todas as opções de aplicação e o que fazia sentido para seu perfil.

Como garantir que além de ter mais ofertas, o Open Banking dará ao cliente ofertas melhores?

Eu acredito que é um caminho natural, que a chegada do Open Banking garantirá uma qualidade maior das ofertas de produtos e serviços. O consumidor vai entender a importância de compartilhar os dados, e aí mais instituições, bancos e fintehcs vão fazer ofertas interessantes.

Eu costumo fazer um paralelo com os restaurantes. Se você vai almoçar em um lugar que só serve prato feito, você não precisa de ninguém para ajudar a escolher. Mas se você vai a um restaurante com muitas opções, você fica feliz, porque acha que pode escolher, mas geralmente o cliente acaba perguntando ao garçom qual prato é preferido e sai mais.

O mesmo vale para o Open Banking. Para o consumidor comum, é difícil comparar, porque a integração de serviços e produtos não só vai trazer preços diferentes, de acordo com a instituição, como também vai ofertar configurações diferentes. Daí a importância de uma orientação.

Como a Franq atua nesse sentido?

Na nossa plataforma, só contratamos bancários com mais de 5 anos de experiência, e damos um treinamento a todos, para que possam se atualizar. Tomamos cuidado para que as remunerações de produtos sejam iguais, para mitigar o conflito de interesses do gerente. 

FONTE: EXAME