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10/12/2015

Crédito com garantia de imóvel sobe, mas esbarra em apego à casa própria

A linha funciona como um crédito pessoal, ou seja, pode ser usada para qualquer finalidade. A principal diferença é que, como possui um garantia real em caso de inadimplência (o imóvel), costuma contar com taxa de juros menores - enquanto o crédito pessoal tradicional tem taxa média de 129,1% ao ano, a taxa do home equity gira em torno de 20% ao ano.

Pedro Garcia

O crédito que usa o imóvel como garantia (home equity) regista avanço de 90% ao ano no País, chegando a R$ 15 bilhões em 2015, e tem espaço para continuar a crescer, mas esbarra no apego do brasileiro com a casa própria.

A linha funciona como um crédito pessoal, ou seja, pode ser usada para qualquer finalidade. A principal diferença é que, como possui um garantia real em caso de inadimplência (o imóvel), costuma contar com taxa de juros menores - enquanto o crédito pessoal tradicional tem taxa média de 129,1% ao ano, a taxa do home equity gira em torno de 20% ao ano.

A falta de uma cultura de usar bens como garantia, contudo, dificulta o avanço da modalidade no Brasil, avaliam especialistas ouvidos pelo DCI. "O brasileiro passou 50 anos sonhando com a casa própria, dentro de um cenário de inflação crescente. É difícil pedir para ele dar o imóvel como garantia", observou Ricardo Kalichsztein, CEO da Bom Pra Crédito.

Nos Estados Unidos, onde a linha já está mais amadurecida, o estoque do empréstimo do home equity é US$ 439,7 bilhões - antes do estouro da bolha imobiliária, a modalidade chegou a ter um saldo US$ 610,6 bilhões.

Rodrigo Alexandre, técnico da Proteste, lembra que, diferentemente dos Estados Unidos, no Brasil, para conseguir o empréstimo, o consumidor precisa ter o imóvel quitado. "A pessoa pode ficar receosa de, depois de passar por um processo de alienação fiduciária no financiamento imobiliário, com a possibilidade de ter o imóvel tomado, ter que voltar para isso", avaliou.

Segundo Kalichsztein, o caminho do home equity no Brasil deve ser parecido com o do crédito consignado, que começou sendo oferecido pelos bancos médios e, após um amadurecimento da carteira, despertou o interesse dos gigantes do mercado e passou a ser incorporado no portfólio. "Atualmente, quem opera com esse produto de forma mais incisiva são essas instituições de menor porte", disse.

Usos e condições - Diferentemente do empréstimo com desconto em folha, no entanto, o crédito com garantia imobiliária costuma ter volumes e prazos maiores. Normas do Banco Central (BC) definem que as instituições podem oferecer crédito de até 60% do valor do imóvel e prazo de até dez anos.

De acordo com o presidente do Grupo M. Stortti, Maurênio Stortti, há dois principais perfis de tomadores dessa linha de crédito, os "empresários que adquirem para investir em seus negócios e os indivíduos que buscam como forma de quitar altas dívidas".

Alexandre aponta ainda o uso do home equity para a aquisição de outro imóvel. "A pessoa pode usar o empréstimo com o imóvel antigo para dar entrada em outro", disse.

Os especialistas alertaram, entretanto, da necessidade de planejamento e mensuração dos riscos para tomar esse empréstimo, principalmente diante do momento econômico vivido pelo País, em que o desemprego chegou a 8,9% no terceiro trimestre e os juros seguem em escalada, chegando a 47,9% ao ano.

Segundo Alexandre, mesmo tendo taxas parecidas e não possuindo destinação específica, as finalidades do crédito consignado e home equity costumam ser diferentes, por terem prazos de pagamento e valores liberados díspares.

"Além disso, o consignado não para quem quer, é para quem pode. Normalmente, funcionários públicos ou aposentados. No setor privado, só grandes empresas costumam conseguir oferecer o desconto em folha", disse Kalichsztein.

Tendências - Para os especialistas, a linha de crédito tem espaço para crescer no Brasil e, à medida que for amadurecendo, as carteiras devem começar a ser consolidadas, por meio de compras. O CEO da Bom Pra Crédito aponta o caso das carteiras de consignado: o portfólio do Bonsucesso foi comprado pelo Santander, Itaú incorporou o BMG e o Bradesco, o BMC.

De acordo com ele, embora a procura pelo crédito tenha crescido na plataforma, o público ainda é pequeno e busca para finalidades específicas.

Alexandre, da Proteste, também alerta para as taxas de juros que, apesar de menores que a média do mercado, variam entre as instituições.

Estudo feito pela organização, em meados de 2014, apontava que o Citibank tinha a menor taxa entre as instituições pesquisadas, com um Custo Efetivo Total - que já inclui taxas e tarifas -, de 13,45% ao ano para empréstimo de R$ 50 mil, garantia de imóvel de R$ 500 mil e prazo de dez anos. A maior taxa para as mesmas condições era do Banco Intermedium, de 33,1%.

FONTE: DCI - SãO PAULO/SP