O Rio Grande do Sul alcançou resultado superior ao da média brasileira no volume de crédito imobiliário concedido em 2013. No País, o financiamento habitacional com recursos da caderneta de poupança do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) fechou o ano alcançando a margem histórica de R$ 109,2 bilhões (alta de 32% em relação a 2012), segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). No Estado, as entidades de crédito concederam R$ 6,42 bilhões, em 2013, contra R$ 4,74 bilhões em 2012 (crescimento superior a 35%). A quantidade de imóveis financiados subiu 19,7% no Rio Grande do Sul, passando de 31,7 mil unidades para 37,9 mil.
Esses números surpreenderam o mercado, que esperava um crescimento de 15%, num cenário apontado pelo presidente da Abecip, Octavio de Lazari Junior, como pessimista. As perspectivas de alta da inflação e dos juros, com queda do PIB, estavam por trás da estimativa conservadora, mas outras condições da economia brasileira sustentaram o crescimento dos financiamentos - que superaram todas as demais operações de crédito bancário no ano.
Com o aumento da renda dos brasileiros acima da inflação, baixo desemprego e inadimplência sob controle, o financiamento imobiliário cresceu mais do que o dobro do esperado, superando a concessão de crédito pessoal e de veículos. Essas condições também devem consolidar um novo recorde de crédito em 2014, com R$ 126 bilhões em novos financiamentos e alta de 15% em comparação com 2013, segundo projeta a Abecip.
O crescimento do ano passado contrasta com um resultado modesto em 2012, decorrente de retração das próprias construtoras, que, segundo Lazari, travaram os investimentos para fazer ajustes. "A impressão, no início de 2012, era de que a coisa não estava indo bem, mas esse freio foi bom, pois chegou num determinado momento em que foi necessário rever produtos e demandas", comenta. Por conta disso, a Abecip apurou elevação de apenas 3,6% na concessão de crédito em 2012 em relação a 2011. O freio das construtoras, explicou o presidente da Abecip, foi necessário também para ajustar atrasos nas entregas de imóveis.
As empresas que deixaram de buscar crédito em 2012 mostraram otimismo em 2013 e aumentaram em 15% a aquisição de financiamento. Lazari projeta continuidade dos investimentos das construtoras neste ano. No Estado é possível notar, também, a elevação na procura de crédito por parte das construtoras e incorporadoras. A Caixa Econômica Federal, que no Rio Grande do Sul, durante 2013, concedeu R$ 3,89 bilhões em crédito imobiliário via SBPE (pouco mais da metade do financiado no Estado), foi responsável por financiar 2,6 mil unidades para produção (um total de R$ 660,72 milhões).
O volume de crédito para produção no Estado, apurado pela Caixa registrou crescimento de 54%. Em todo País, a Caixa responde por R$ 60,6 bilhões do total financiado via SBPE. Deste total, mais de R$ 14 bilhões foram concedidos para produção (alta de 39%, em comparação com 2012).
Durante coletiva de imprensa na manhã de ontem, Lazari reforçou que a ampliação de concessão de crédito é sustentável e benéfica para o mercado imobiliário. O saldo das cadernetas de poupança do SBPE, que compõem o funding das entidades de crédito imobiliário, também está em crescimento, registrando aumento de 20% entre dezembro de 2012 e dezembro de 2013, quando o saldo dos depósitos alcançou R$ 466 bilhões.
O tomador de crédito também tem garantido uma contrapartida considerável para manutenção da sustentabilidade do sistema de crédito. O aporte dos compradores com a entrada, em média, fica em 35% do valor do imóvel, e as famílias costumam comprometer menos de 30% do orçamento familiar. A inadimplência é outro ponto forte no cenário desenhado por Lazari e para os imóveis é a menor em comparação com outras modalidades de crédito. A inadimplência no mercado imobiliário é de 1,8% contra 8,1% do cheque especial, 5,3% para veículos e 4% do crédito pessoal. "Estamos com uma expectativa muito boa", salienta Lazari.
A perspectiva de bolha imobiliária no País, decorrente da alta no preço dos imóveis, foi refutada pelo presidente da Abecip, Octavio de Lazari Junior. Além da segurança exigida pelo mercado de crédito imobiliário, que prevê garantias para realizar o financiamento, as características de compra dos brasileiros atestam que o interesse na compra de imóveis não é especulativo.
Lazari destaca que 95% das operações de crédito foram feitas para compra de moradia e que, "se houver um banco regulando o crédito, a bolha não se sustenta no País".
Mas para quem acompanha o preço dos imóveis, no entanto, a sensação pode ser outra. A valorização imobiliária no País cresceu 55% nos últimos dez anos. Se considerada a média para o período, isso reflete em uma alta de 3,7% ao ano, mas esse crescimento, no entanto, tem se concentrado nos últimos anos. "De 1998 a 2008, a valorização foi muito tímida", revela Lazari.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Corretores de Empréstimo e Financiamento Imobiliário (Abracefi), Marcelo Prata, a tendência agora é de alta moderada. O mercado está se ajustando e caminha para a estabilização, projeta. ?Talvez este ano seja decisivo. Em alguns lugares, a gente teve pico de preços, que fogem à compreensão, mas a verdade é que o mercado se regula?.
Prata projeta que 2014 será um ano de acomodação. "Aí, sim, a partir de 2015, a gente pode ter um mercado num patamar real, mais estável".
Porto Alegre, que registrou alta de 14% entre dezembro de 2012 e dezembro de 2013, caminha para chegar a um nível que Prata considera o ideal para o mercado imobiliário, estabilizando a valorização em 10%. "Uma vez que o mercado se acomode, a gente vai ter 10% ao ano, porque acompanha a inflação", esclarece Prata. Esse patamar, na Capital, deve ser alcançado a partir de 2015.
Alta da taxa Selic não deve elevar custo do financiamento
Considerada uma das melhores modalidades de crédito para o consumidor, o financiamento imobiliário deve ser mantido como um dos principais atrativos nas carteiras de crédito dos bancos. Nem a alta da Selic, projetada para chegar a 10,75% neste ano, deve reduzir o apetite das instituições bancárias para negociar taxas atrativas para os clientes. O presidente da Abecip, Octavio de Lazari Junior, antecipa que os bancos já fizeram planejamento para 2014, mantendo a importância do crédito imobiliário em alta.
Além das fontes de recurso do sistema assegurar condições de manutenção do crédito a um patamar acessível, Lazari destaca o potencial do tomador de crédito imobiliário na fidelização do banco e aquisição de novos produtos.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Corretores de Empréstimo e Financiamento Imobiliário (Abracefi), Marcelo Prata, o que o comprador pode encontrar, nesse cenário de alta da taxa Selic, é um apetite menor do sistema financeiro para bancar o custo dos juros de outras instituições, mas ele não crê em alta de taxas.