ABECIP na mídia

16/04/2014

Apenas 4 segmentos do varejo venderam mais em fevereiro

Considerando automóveis e materiais de construção (o chamado varejo ampliado), as vendas recuaram 1,6% entre janeiro e fevereiro e registraram expansão mais modesta em 12 meses, de 3,9%.

 

Francine De Lorenzo e Diogo Martins

Com aumento de 0,2% entre janeiro e fevereiro, as vendas do varejo restrito (que excluem automóveis e materiais de construção) cresceram 5% em 12 meses, voltando a se acelerar pela primeira vez desde novembro de 2012. Os resultados, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são vistos com cautela pelos economistas, que não esperam novo ciclo de expansão do consumo a curto prazo. Considerando automóveis e materiais de construção (o chamado varejo ampliado), as vendas recuaram 1,6% entre janeiro e fevereiro e registraram expansão mais modesta em 12 meses, de 3,9%. 

Apenas quatro dos dez ramos analisados pelo IBGE apresentaram aumento nas vendas entre janeiro e fevereiro. Setores importantes, como supermercados, calçados e vestuário e veículos, venderam menos. Nas lojas de móveis e eletrodomésticos, as vendas ficaram estáveis. 

Para a economista da Tendências Consultoria, Mariana Oliveira, encerrou-se o ciclo de grande crescimento em todos os segmentos do varejo. Daqui para frente, diz, o consumidor vai cada vez mais selecionar gastos. "Com isso, alguns segmentos do comércio vão crescer em detrimento de outros. Não há mais espaço para expansão de todos ao mesmo tempo." 

Na passagem de janeiro para fevereiro, as vendas de equipamentos de informática e materiais de escritório foram as que mais cresceram (9%). "Trata-se de um segmento pequeno e muito volátil", pondera a economista do Banco ABC Brasil, Mariana Hauer. Artigos de uso pessoal e doméstico, materiais de construção e combustíveis e lubrificantes completam o quadro das variações positivas, com altas de 0,5%, 2,2% e 1,6%, respectivamente. "No caso de combustíveis, há um incentivo ao consumo, porque o preço vem subindo menos que a inflação", diz a economista do ABC Brasil.

No primeiro bimestre, a inflação abaixo do esperado para esta época do ano, diz Mariana Oliveira, da Tendências, permitiu resultados positivos ao varejo. Mas, em março, os preços voltaram a subir com força (o IPCA avançou 0,92% e superou as expectativas do mercado), o que deve refletir nas vendas. "O desempenho do comércio em março deve ter sido pior que o de fevereiro. O ganho real das famílias vai diminuir", afirma.

Além do orçamento mais apertado, a baixa confiança do consumidor, o crédito caro e o alto nível de endividamento engordam a lista de restrições à expansão do consumo. "Se as pessoas acreditam que os preços continuarão subindo, deixam de gastar, porque sabem que o salário não é reajustado todo mês e a renda pode não ser suficiente", diz Mariana, do ABC Brasil.

Uma inversão nesse quadro, em seu entender, só será possível quando a inflação voltar a patamares mais baixos, a economia se acelerar e o endividamento cair. "Mas esse não é o panorama para os próximos meses", observa a economista do ABC Brasil, que projeta expansão de 4,1% nas vendas do varejo restrito em 2014, levemente abaixo dos 4,3% de 2013.

O avanço dos juros, entretanto, pode ter impulsionando as vendas de materiais de construção em fevereiro, que subiram 16,6% em relação ao mesmo período de 2013. "É possível que esteja havendo uma antecipação na compra e reforma de imóveis por conta do avanço dos juros", diz Mariana Oliveira, citando dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que mostram aumento de 16% nas unidades financiadas entre janeiro e fevereiro e de 58% em relação a fevereiro de 2013.

Para a técnica da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Aleciana Gusmão, os incentivos fiscais para construção, móveis e eletrodomésticos continuam beneficiando as vendas desses segmentos. "A combinação de IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] reduzido para alguns produtos e o aumento do limite de utilização do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço] para a compra de imóveis está beneficiando as vendas de materiais de construção", afirma.

Em sentido contrário, a volta do IPI para automóveis foi apontada pela técnica do IBGE como o principal motivo para a queda de 7,6% nas vendas do segmento - a maior desde setembro de 2012, quando o recuo foi de 24,9%.

 

FONTE: VALOR ECONôMICO - BRASIL - PáG. A3